Explique a cisão política das elites na Regência?
me ajudemm pleaseee
Soluções para a tarefa
Resposta:
Portugal e Espanha constituíram, no início da Idade Moderna, os denominados Impérios Português e Espanhol da América, respectivamente. O desaparecimento destes dois grandes impérios ibéricos, nas três primeiras décadas do século XIX, por meio do que se convencionou designar de independência política, originou cerca de 30 novos Estados, o que colocou, na cena política então delineada, a necessidade de definição da identidade nacional das novas repúblicas; o mesmo é válido para a única monarquia constitucional americana, o Brasil, que escolheu o regime monárquico. Isso implica, igualmente, a consideração do papel que o território desempenharia na organização desse conjunto de Estados modernos, particularmente no Brasil. Afinal, o Estado-nação - a configuração territorial que a sociedade moderna estabeleceu para se organizar politicamente, interna e externamente (o que remonta aos Tratados de Paz de Westfália, de 1648) - chegava à América Meridional naquele momento, em meio à difusão da ideologia do liberalismo, que se baseia nas idéias de soberania popular, democracia e governo representativo.
Entendemos que tais mudanças, indissociáveis da Revolução Americana (1776), da Revolução Industrial (década de 1780) e da Revolução Francesa (1789), evidenciam que a dinâmica política, econômica e cultural da sociedade capitalista e moderna já configurava a institucionalização, em curso acelerado, do que hoje conhecemos como a mundialização. De qualquer maneira, é pertinente indagarmos em que medida a colonização ibérica interferiu na organização territorial dos Estados-nações na América Meridional, para discutirmos as continuidades e as mudanças desencadeadas pelo processo de sua emancipação, no contexto do liberalismo.
Assim, apresentaremos a organização administrativa das colônias ibéricas na América, inclusive as reformas do século XVIII; as rebeliões contra o jugo ibérico; a desagregação político-territorial do Império Espanhol da América e a futura unidade política no território do antigo Império Português da América e, por fim, as continuidades e mudanças dos novos Estados.
Os Impérios Espanhol e Português da América: organização administrativa e territorial
É importante registrar que, desde 1516, a América Espanhola é conhecida como o Reino das Índias e integra a monarquia espanhola, com os mesmos direitos das demais possessões da Espanha (Konetzke, 1993). Mesmo se a população e os recursos naturais, a exemplo das ricas minas de prata, de seu enorme território (cerca de 13,5 milhões de quilômetros quadrados), eram explorados em favor da monarquia espanhola, tais possessões não são consideradas colônias; do ponto de vista jurídico, têm o estatuto de Reinos Ultramarinhos da Coroa espanhola.
Os espanhóis não tiveram dificuldades maiores para se adaptarem às condições geográficas, mesmo nas zonas de relevo montanhoso e acidentado da vertente do oceano Pacífico e, por razões de segurança (Benassar, 1987), se estabeleceram nas cidades, situadas no interior do território e distantes umas das outras, mantendo os modelos de ocupação dos povos pré-colombianos, alguns dos quais constituíam civilizações antigas e muito importantes.
As Reformas dos Bourbons, no começo do século XVIII, aprofundaram as diferenças entre os peninsulares – os indivíduos nascidos na Espanha e que, por essa razão, exerciam os postos mais importantes da administração do Império Espanhol da América (inclusive na hierarquia eclesiástica) e monopolizavam o comércio de importação e exportação – e os criollos – indivíduos de origem espanhola nascidos na colônia americana, ocupavam os postos inferiores da administração e tinham direito à propriedade rural (o que lhes permitiu constituir-se como elite, do ponto de vista econômico ou intelectual).
Essas reformas unificaram as competências administrativas, financeiras e militares na figura do intendente, ou, em outras palavras, a criação das intendências “signifie la construction d’une bureaucratie dirigée par Madrid, et composée, en majorité, de péninsulaires” (Donghi, 1972, p. 40). Dentre os objetivos da criação das intendências, enumerava-se uma maior racionalização na cobrança de impostos, o que aumentou os conflitos administrativos entre a Coroa espanhola e o Reino das Índias. E, ainda mais grave, a partir das intendências, o termo colônia passou a ser utilizado para designar as Índias espanholas. As elites criollas compreenderam que o novo corpo administrativo, imposto pelas referidas reformas, defendia exclusivamente os interesses da Coroa.
Por isso mesmo, entre o final do século XVIII e o começo do século XIX, surgiu uma oposição entre aqueles que defendiam um “patriotismo espanhol”, isto é, as elites peninsulares, e aqueles que se sentiam americanos. Observando a situação, Alexander von Humboldt registrou que, “desde la paz de Versalles y sobre todo a partir de 1789, los nativos prefieren decir con orgullo: ‘Yo no soy español en absoluto, yo soy americano’”(Apud Minguet, 1985, p. 247).