(ENEM, 2009)
Texto I
Principiei a leitura de má vontade. E logo emperrei na história de um menino vadio que, dirigindo-se à escola, se retardava a conversar com os passarinhos e recebia deles opiniões sisudas e bons conselhos. Em seguida vinham outros irracionais, igualmente bem-intencionados e bem-falantes. Havia a moscazinha que morava na parede de uma chaminé e voava à toa, desobedecendo às ordens maternas, e tanto voou que afinal caiu no fogo. Esses contos me intrigaram com o [livro] Barão de Macaúbas. Infelizmente um doutor, utilizando bichinhos, impunha-nos a linguagem dos doutores. — Queres tu brincar comigo? O passarinho, no galho, respondia com preceito e moral, e a mosca usava adjetivos colhidos no dicionário. A figura do barão manchava o frontispício do livro, e a gente percebia que era dele o pedantismo atribuído à mosca e ao passarinho. Ridículo um indivíduo hirsuto e grave, doutor e barão, pipilar conselhos, zumbir admoestações. (RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1986. (adaptado))
Texto II
Dado que a literatura, como a vida, na medida em que atua com toda sua gama, é artificial querer que ela funcione como os manuais de virtude e boa conduta. E a sociedade não pode senão escolher o que em cada momento lhe parece adaptado aos seus fins, enfrentando ainda assim os mais curiosos paradoxos, pois mesmo as obras consideradas indispensáveis para a formação do moço trazem frequentemente o que as convenções desejariam banir. Aliás, essa espécie de inevitável contrabando é um dos meios porque o jovem entra em contato com realidades que se tenciona escamotear-lhe. (CÂNDIDO, A. A literatura e a formação do homem. Duas Cidades. São Paulo: Ed. 34, 2002. (adaptado))
Os dois textos, com enfoques diferentes, abordam um mesmo problema, que se refere, simultaneamente, ao campo literário e ao social. Considerando-se a relação entre os dois textos, verifica-se que eles têm em comum o fato de que:
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Ambos os textos dialogam sobre o mesmo assunto, porém, apresentam tipos literários diferentes, como podemos citar:
Um informa de maneira mais natural o ocorrido, utilizando uma linguagem que se liga a informalidade.
O segundo, parte dos termos coloquiais, ou seja, podem demandar uma pesquisa mais ampla, mas ainda sim se comunica com o leitor, tendo uma construção adequada para os padrões da norma culta.
Valeu!
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