(ENADE – 2008). Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo,
não os olhos, mas uma infinidade de portas e janelas alinhadas. (...) Sentia-
se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas
rasteiras que mergulham o pé na lama preta e nutriente da vida, o prazer
animal de existir, a triunfante sensação de respirar sobre a terra. Da porta
da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas, fazendo
compras. Aluísio Azevedo. O cortiço. São Paulo: Ática, 1989, p. 28-9.
Aliás, o cortiço andava no ar, excitado pela festa, alvoroçado pelo jantar,
que eles apressavam para se dirigirem a Montsou. Grupos de crianças
corriam, homens em mangas de camisa arrastavam chinelos com o gingar
dos dias de repouso. As janelas e as portas escancaradas por causa do
tempo quente deixavam ver a correnteza das salas, transbordando em
gesticulações e em gritos o formigueiro das famílias. Émile Zola. Germinal. São
Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 136.
Aluísio Azevedo certamente se inspirou em L’Assommoir (A Taberna), de
Émile Zola, para escrever O Cortiço (1890), e por muitos aspectos seu texto
é um texto segundo, que tomou de empréstimo não apenas a ideia de
descrever a vida do trabalhador pobre no quadro de um cortiço, mas um
bom número de pormenores, mais ou menos importantes. Mas, ao mesmo
tempo, Aluísio quis reproduzir e interpretar a realidade que o cercava e sob
esse aspecto elaborou um texto primeiro. Texto primeiro na medida em
que filtra o meio; texto segundo na medida em que vê o meio com lentes
de empréstimo. Se pudermos marcar alguns aspectos dessa interação,
talvez possamos esclarecer como, em um país subdesenvolvido, a
elaboração de um mundo ficcional coerente sofre de maneira acentuada o
impacto dos textos feitos nos países centrais e, ao mesmo tempo, a
solicitação imperiosa da realidade natural e social imediata. Antonio Candido.
De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade. São Paulo / Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul,
2004, p.106-7/128-9 (com adaptações).
Assinale a opção em que a relação intertextual entre O Cortiço e Germinal
é interpretada pelos parâmetros críticos apresentados no texto de Antonio
Candido acerca da relação entre a obra de Aluísio Azevedo e a de Émile Zola.
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Nota-se que em ambos, identificamos a presença de grande caráter naturalista, que denuncia os defeitos, os sentimentos bem como questões relacionadas à grandes críticas sociais vivenciada em ambientes urbanos.
Em "O cortiço", esse naturalismo está presente quando o narrador evidencia os grandes defeitos dos personagens, além de atribuir características animalizadas a estes, como pode-se notar também na obra de construção de Émile Zola.
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