“Em meados dos anos 70 do nosso século, dois caciques da nação xavante vieram, de avião, visitar a cidade de São Paulo; a visão aérea noturna de uma megalópole (com sua “floresta de prédios) os impressionou sobremaneira (tal como, para nós, é inesquecível e confusa a paisagem amazônica). Foram dormir em um hotel e, no dia seguinte, levados para passear. Aonde levá-los, senão para ver o diferente, o exótico, o inédito? Andaram de metrô (recém-inaugurado), caminharam pela Av. Paulista (com suas catedrais financeiras altíssimas), visitaram um shopping center (só havia dois naquele tempo) e, por fim, foram conhecer um dos prédios históricos paulistanos na região central que abriga um imenso mercado municipal (entreposto de frutas, legumes e cereais). A ida ao mercado tinha a finalidade de surpreendê-los com um cenário paradisíaco: alimentos acumulados em grande quantidade. Como, naquela época, eles quase não usassem o dinheiro com mediação para qualidade de vida, o alimento farto representava uma riqueza incomensurável. Entraram, deram dois passos no interior do prédio e, subitamente, estancaram boquiabertos com o cenário: pilhas e pilhas de alface, de cenoura, de tomate, de laranja etc. Começaram a andar por entre as pilhas e caixas, em meio àquele ruído de vozes, folhas e frutos esmagados e caídos no piso, um movimento incessante. De repente, um deles viu algo que nenhum e nenhuma de nós veria, pois não chamaria nossa atenção. Ele apontou e disse: O que ele está fazendo? “Ele” era um menino de uns 10 anos de idade, negro, pobre (nós o saberíamos, pelas vestimentas), que no chão catava verduras e frutas amassadas, estragadas e sujas, e as colocava em um saquinho plástico. A resposta foi a “óbvia”: Ele está pegando comida. O cacique continuou passeando, calado (provavelmente tentando compreender, a resposta dada); depois de uns 10 minutos, voltou à carga: Não entendi. Por que o menino está pegando aquela comida podre se tem tanta coisa boa nas pilhas e caixas? Outra resposta evidente: Porque para pegar nas pilhas precisa ter dinheiro. Insiste o xavante (já irritante, pois está escavando onde a injustiça sangra): E por que ele não tem dinheiro? Réplica enfadonha do civilizado: Porque ele é criança! Torna o índio: E o pai dele? Tem dinheiro? Outra obviedade: Não, não tem. Questão final: Então, não entendi de novo. Por que você que é grande tem dinheiro e o pai do menino, que também é, não tem? A única saída possível foi responder: Porque aqui é assim! ” CORTELLA, M, S. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. Mesmo vivendo em realidades diferentes, o ser humano carrega ensinamentos, costumes, valores e normas no cotidiano de sua existência e, portanto, somos seres da cultura. O problema nasce quando não há mais questionamentos sobre a realidade da vida, sobre os acontecimentos do dia-a-dia e, assim, notamos que já estamos acostumados. Nada mais nos assusta, nada mais nos faz pensar, tudo se tornou normal. Vamos pensar, o que leva o homem ao esquecimento e ao acostumar-se com os fatos, às vezes, tão dramáticos e perigosos. Seria a falta de consciência filosófica? Seria a falta da reflexão filosófica sobre o sentido da educação sobre o sentido da vida? O texto, “sobre ideias e pães”, selecionado para esta atividade é do professor Mário Sérgio Cortella. O autor ressalta a necessidade da reflexão e do conhecimento filosófico sobre o ser e o existir do homem. As reflexões emergentes desse estudo, além de apontarem os lugares do encontro da filosofia com a educação, objetivam despertar nos docentes a prática consciente e coerente com os ensinamentos filosóficos. Considerando que você é estudante de pedagogia, e futuro (a) professor (a) da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental e preocupado (a) com a educação para a construção humana, leia o texto e faça sua reflexão de, no mínimo, 20 linhas, apontando os tópicos mais relevantes que caracterizam a filosofia, a reflexão filosófica, a construção humana e a educação. Importante valorizar os estudos realizados em “o que é filosofia? ” A Reflexão Filosófica, o professor de filosofia e a finalidade da educação.
Soluções para a tarefa
Resposta:
A filosofia tem como objetivo fazer com que os seres humanos possam ter senso crítico e com ela podemos pensar por meio da reflexão no que se refere a nossa existência e por isso esta área sempre se mostrou de grande importância para a educação, simplesmente pelo fato de estimular os indivíduos a pensar, criticar e compreender o mundo sob novas perspectivas.
O cacique carrega ensinamentos, costumes e valores completamente diferentes daquelas pessoas da cidade grande. Valores esses que faz dele uma pessoa crítica e filosófica e por mais que as pessoas da cidade achem normal uma criança de 10 anos estar catando comida do chão para se alimentar, o cacique quer entender do porquê de aquilo estar acontecendo e o que levaram aquelas pessoas acharem uma tal cena, se tornar algo comum.