Português, perguntado por Estudar518, 11 meses atrás

É obrigatório ter sete sílabas em todos os versos no cordel ou pode ter métricas diferentes?

Soluções para a tarefa

Respondido por arthurcury27
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Resposta:

Os poemas em cordel seguem regras de métrica e rima inescapáveis, sem elas não se faz um cordel. Seguem abaixo alguns dos modelos possíveis:

Sextilha

Geralmente, o cordel é escrito em forma de sextilha, estrofes de seis versos, com versos de sete sílabas poéticas. Obrigatoriamente, o segundo, o quarto e o sexto versos devem rimar entre si. Para exemplificar, segue abaixo a primeira estrofe do cordel “O Pavão Misterioso”, de José Camelo de Melo Rezende, um dos cordéis mais lidos até hoje:

1o Eu/ vou/ con/tar/ uma/ his/tó/ria [não rima]

2o De um pavão misterioso [rima]

3o Que levantou vôo na Grécia [não rima]

4o Com um rapaz corajoso [rima]

5o Raptando uma condessa [não rima]

6o Filha de um conde orgulhoso. [rima]

Setilha

Também usada, a setilha, com estrofes de sete versos, tem a seguinte rima: o segundo, quarto e o sétimo verso rimam entre si e o quinto e sexto têm uma segunda rima entre si. Como exemplo, segue abaixo o cordel “As coisas do meu sertão”, do poeta Zé Bezerra de Carvalho.

1o Já falei de saudade [não rima]

2o Tristeza e ingratidão [rima 1]

3o De amor e de prazer [não rima]

4o E cantei de emoção [rima 1]

5o Quero agora cantar [rima 2]

6o E também quero falar [rima 2]

7o Das coisas do meu sertão [rima 1]

Décima

A Décima, mais usada pelo repente, é uma estrofe de dez versos de sete sílabas poéticas, ela é o gênero usado pelos cantadores repentistas para os versos de mote. Nas décima, as rimas são: o primeiro verso rima com o quarto e quinto, o segundo rima com terceiro, o sexto rima com o sétimo e décimoo, e o oitavo rima com o nono. Segue abaixo um trecho em décima do cantador Ugolino do Sabugi:

1o As obras da Natureza [rima 1]

2o São de tanta perfeição, [rima 2]

3o Que a nossa imaginação [rima 2]

4o Não pinta tanta grandeza! [rima 1]

5o Para imitar a beleza [rima 1]

6o Das nuvens com suas cores, [rima 3]

7o Se desmanchando em louvores [rima 3]

8o De um manto adamascado [rima 4]

9o O artista, com cuidado, [rima 4]

10o Da arte aplica os primores [rima 3]

Martelo agalopado

O cordel também pode ser feito em martelo agalopado, embora seja mais raro e seja mais usado pelos cantadores repentistas. No caso, a estrofe deve ter dez versos de dez sílabas poéticas, sendo que cada verso tem que ter a acentuação tônica na terceira, sexta e décima sílabas poéticas. A rima segue o mesmo padrão da décima. Para exemplificar, os versos de Marco Haurélio no cordel “Galopando o cavalo pensamento”:

A Se/nho/ra/ dos/ Tú/mu/los/ ob/serva [10 sílabas poéticas, sílabas fortes em negrito]

O vaivém da tacanha mocidade,

Que despreza a virtude e a verdade

E dos vícios se mostra fiel serva,

Porém nada no mundo se conserva:

Sendo a vida infindo movimento,

É a Morte um novo nascimento

A inveja é o túmulo dos vivos —

O herói repudia esses cativos,

Galopando o Cavalo Pensamento.

Galope à beira-mar

Há também o galope à beira-mar, de estrofes com dez versos de onze sílabas poéticas, com as tônicas na segunda, quinta oitava e décima primeira sílabas poéticas, obedecendo às mesmas regras de rima da décima, sendo que também é mais comum no repente e a última estrofe deve terminar com “mar”. A estrofe a seguir, do cantador de repente Dimas Batista, exemplifica:

Can/tan/do/ Ga/lo/pe/ nin/guém/ me/ hu/milha, [sílabas fortes em negrito]

Pois tudo que existe no mar aproveito,

Na ilha, no cabo, península, estreito,

Estreito, península, no cabo, na ilha,

No barco, na proa, em bússola e milha!

Medindo a distância eu vou viajar,

Não quero, da rota, jamais me afastar,

Porque me afastando o destino saí torto;

Confio em Deus pra avistar o meu porto,

Cantando Galope na beira do mar!

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