“E domingo, 22 do dito mês [...]”?
“Estes índios são de cor baça, e cabelo corredio; têm o rosto amassado e algumas
feições dele à maneira de chinês. Pela maior parte são bem dispostos, rijos e de boa
estatura; gente mui esforçada, e que estima pouco morrer, temerária na guerra, e de
muito pouca consideração: são desagradecidos em grande maneira, e mui desumanos e
cruéis, inclinados a pelejar, e vingativos por extremo. Vivem todos mui descansados
sem terem outro pensamento senão de comer, beber, e matar gente, e por isso
engordam muito, mas com qualquer desgosto pelo conseguinte tornam a emagrecer, e
muitas vezes pode deles tanta imaginação que se algum deseja a morte ou alguém lhe
mete em cabeça que há de morrer tal dia ou tal noite não passa daquele termos que não
morra. São mui inconstantes e mudáveis: creem de ligeiro tudo aquilo que lhes
persuadem por dificultoso e impossível que seja, e com qualquer dissuasão facilmente o
tornam logo a negar. São mui desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam
aos vícios como se neles não houvera razão de homens: ainda que, todavia, em seu
ajuntamento de machos e fêmeas têm o devido resguardo, e nisto mostram ter alguma
vergonha.
A língua de que usam, toda pela costa, é uma: ainda que em certos vocábulos
difere n’ algumas partes; mas não de maneira que se deixem uns aos outros de
entender: e isto até a altura de vinte e sete graus, que daí por diante há outra
genialidade, de que nós não temos tanta notícia, que falam já outa língua diferente.
Esta, de que trato, que é geral pela costa, é mui branda, e a qualquer nação fácil de
tomar. Alguns vocábulos há nela de que não usam as fêmeas, e outro que não sirvam
senão para os machos: carece de três letras, convém a saber, não se acha nela nem F,
nem L, nem R, coisa digna de espanto porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei e
desta maneira vivem desordenadamente sem terem além disto conta nem peso, nem
medida.
GÂNDAVO, P. de M. In: Cronistas e viajantes: literatura comentada. São Paulo: Abril
Cultural, 1982
Registre (marque) a alternativa que não se refere ao trecho da obra de Pero de Magalhães
Gândavo que você leu. Explique sua escolha.
a) Faz uma descrição psicológica dos indígenas expressando um juízo de valor, de forma
semelhante à feita por Caminha nos trechos da carta lidos anteriormente.
b) Por meio de adjetivos e locuções adjetivas, manifesta opinião de que os indígenas são
contraditórios.
c) Expressa uma visão de superioridade da cultura europeia nos aspectos religioso, jurídico e político.
d) Ressalta atributos físicos do povo nativo.
e) Analisa as ações dos indígenas de forma depreciativa.
2 O autor faz comentários a respeito da língua falada pelos habitantes nativos.
a) Que relação ele estabelece entre a língua indígena e a questão de gênero?
b) Que observações Gândavo faz a respeito da ausência de algumas letras na língua falada
pelos nativos?
c) Segundo o autor, a língua falada pelos nativos era comum a todos? Justifique.
3 As figuras de linguagem muitas vezes têm forte valor argumentativo. Releia este trecho:
[...] carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna
de espanto porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei e desta maneira vivem
desordenadamente sem terem além disto conta nem peso, nem medida.
Que figura de linguagem foi usada nesse trecho? Com que objetivo?
4-Explique o efeito de sentido produzido pelo uso destes adjetivos no grau superlativo
no trecho da crônica de Pero de Magalhães Gândavo que você leu: “bem dispostos”, “mui
esforçada”, “desagradecidos em grande maneira”, “mui desumanos e cruéis”, “mui
descansados” e “mui desonestos”.
Me ajudem, por favor!
Soluções para a tarefa
Respondido por
4
Resposta:
letra d
Explicação:
espero ter ajudado
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