Descreva o mito da criação dos povos indígenas
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A figura primária na maioria das lendas guaranis da criação é Iamandu ou Nhamandú (Ñamandu), também conhecido como Nhanderuvuçu, realizador de toda a criação. Em outras versões, essa figura é Tupã, o senhor do trovão. Outras versões apontam Ñane Ramõi Jusu Papa, ou "Nosso Grande Avô Eterno", que teria se constituído a si próprio a partir de Jasuka, uma substância originária.[3]
Com a ajuda da deusa da Lua Jaci (ou em outras versões, Araci), Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Areguá, no Paraguai, e, deste local, criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento. Tupã, então, criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu.
Já segundo o mito de Ñane Ramõi Jusu Papa, este teria criado sua esposa, Ñande Jari ou "Nossa Avó", a partir de seu diadema, mas teria logo brigado com ela e ameaçado destruir o mundo. Só não o destruiu porque foi contido pelo cântico sagrado de sua esposa, entoado com o acompanhamento do takuapu, um pedaço de taquara de 1,10 metro de comprimento que é percutido no chão. Até hoje, o takuapu é o instrumento musical das mulheres guaranis, que acompanha musicalmente o toque das maracas dos homens.[4]
Os mbyá-guaranis possuem uma compilação de mitos em forma de cantos sagrados denominada Ayvú Rapyta ("Os Fundamentos do Ser"), que foi coletada e publicada primeiro pelo etnólogo Léon Cadogan em 1953[5] e traduzida por outros antropólogos posteriores, como Pierre Clastres (1990) e Kaká Werá Jecupé,[6] este último tendo adaptado a tradução poética em seu livro Tupã Tenondé (2001),[7] com base em sua ascendência e convivência indígena em aldeias guarani desde a década de 80, coletando relatos orais dos caciques.[8] A poeta e tradutora Josely Vianna Baptista publicou também uma versão em 2011.[6] O mito descreve Nhamandú, a essência imanifesta de Tupã Tenondé que, por meio de Mborayu (Amor), gera Kuaray e o Grande Som, "que se põe a dançar e cantar na imensidão de Nhamandú e criando mundos através de seus cantos sagrados", realizando a criação como uma música e manifesto na forma de um colibri, pássaro também presente em mitologias das culturas andinas.[7][8]
Antropogonia: primeiros humanos
Os humanos originais criados por Tupã eram Rupave e Sypave, nomes que significam "Pai dos povos" e "Mãe dos povos", respectivamente. O par teve três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo guarani. O segundo filho foi Marangatu, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete monstros legendários do mito guarani. Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso, ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas