Artes, perguntado por adryellypaola, 8 meses atrás

De que maneira um artísta pode modificar um espaço com seu trabalho

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Respondido por sofia7prado
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O tempo todo nós somos afetados por estímulos visuais. Nos espaços públicos, as peças de propaganda e estilos de arquitetura despertam sentimentos e percepções, refletindo uma cultura. Contudo, à medida que os espaços se tornam privados, a sensação é que as vias públicas são meras passagens; formas de ir de um lugar ao outro. Com isso não se perde apenas o espaço coletivo, mas também o espírito de comunidade.

Cada vez mais, a arte de rua se embrenha em uma tentativa de resgatar não só os espaços, como também a conexão entre as pessoas, transformando espaços em lugares democráticos de socialização e recaracterizando como indivíduos a massa de humanos que caminha pelas ruas. Ir além do concreto cinza e da pressa, gerar um estranhamento e fazer pensar: essa tem sido a luta da arte de rua. E o resultado tem se mostrado mais positivo do que você pode imaginar.

Em um artigo para o Centro de Artes e Estudos Culturais da Universidade de Princeton, nos EUA, Joshua Guetzkow apresentou as formas com que a arte de rua impacta a sociedade. A influência pode ser percebida não só a partir do envolvimento direto com a arte, mas também pela participação como audiência ou, simplesmente, devido à presença de instituições e organizações artísticas na comunidade. Para o indivíduo, os benefícios de intervenções artísticas públicas em determinada área podem ser vistos na saúde, no desenvolvimento cognitivo e psicológico e nos laços interpessoais. Já para a comunidade, a arte pública promove o desenvolvimento econômico, cultural e social. Mas essas mudanças felizmente não se restringem à teoria.

Detroit, a arte que ocupa (e inspira)

Fragilizada pela crise da indústria automobilística nos anos 70, a principal atividade econômica da região, e com rombos seríssimos nos cofres municipais nos últimos anos, Detroit, nos EUA, afundou-se em uma grave crise econômica e social, que afetou as esferas pública e privada. O resultado disso foi um êxodo em massa que deixou para trás prédios abandonados e casas caindo aos pedaços, em cenários dignos de filmes de invasão zumbi – a população passou de 1,8 milhão para 700 mil habitantes.

Mas antes que os mortos-vivos pudessem ser vistos dobrando as esquinas desertas, o movimento artístico da cidade usou a crise como combustível criativo, fazendo dos muros vazios telas de pintura e dos baixos preços de imóveis, que podiam ser comprados por algumas centenas de dólares, uma oportunidade para criarem espaços de arte.

É o caso da Write A House, uma organização que está reformando casas em Detroit e cedendo o espaço para novos escritores. “Fazer uso de três casas que estavam vazias por tanto tempo muda as coisas”, afirmou Sara F. Cox, fundadora da organização. A proposta de dar vida ao abandonado também tem sido efetiva com murais e outras intervenções, que fazem uso de um espaço vazio, lembrando diariamente a comunidade que, apesar de tudo, Detroit ainda vive.

Mas dar um sopro de vida ao espaço urbano por meio da arte não é novidade em Detroit. Em 1986, o artista Tyree Guyton criou uma organização que transformava em espaços de arte casas vazias de uma das áreas mais perigosas da cidade. Foi assim que surgiu a Heidelberg Street, região que há anos não é palco de crimes graves e que é considerada hoje o terceiro maior ponto turístico da cidade. A iniciativa deu tão certo que foi expandida em outros projeto, como o Lincoln Street Art Park, um parque de esculturas nada convencional, criado em uma área industrial abandonada da cidade.

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O movimento artístico tomou tanta força nessa crise que até mesmo um estacionamento foi transformado em galeria de arte de arte de rua. Chamado de Z Project, o projeto convida artistas de todo o mundo para fazerem suas artes nos dez andares de estacionamento da galeria. Se antes Detroit era conhecida como uma cidade semi-abandonada, hoje ela é um berço da arte urbana e um incrível exemplo de como o movimento artístico pode transformar uma comunidade.

As cores que valorizam a favela

Uma lata de tinta não muda o mundo, mas um projeto de arte pode transformar uma vizinhança. Após chegarem ao Brasil para a gravação de um documentário sobre a vida nas favelas do Rio de Janeiro, a dupla de artistas holandeses Jeroen Koolhaas e Dre Urhahnse encantou com a forma com que essas comunidades se formaram e decidiu usar o espaço como tela para sua arte, no projeto Favela Painting.

A primeira iniciativa, em 2007, foi pintar um mural na Vila Cruzeiro, com um garoto empinando uma pipa. Dois anos depois, eles viriam a fazer um de seus maiores projetos: um rio de carpas, em estilo japonês, no concreto do morro. Em 2010, em Santa Marta, as fachadas de 34 casas da a Praça Cantão se transformaram em uma explosão de cores. Mas a intervenção vai além do que se vê. Durante todo esse tempo, os dois artistas viveram nas comunidades em que trabalhavam, contrataram moradores para ajudá-los nas pinturas e envolveram a comunidade na transformação.

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