De que forma os militares podem influenciar na política de um Estado?
Soluções para a tarefa
Resposta:
Como isso pôde acontecer? Segundo Hunter, a competição eleitoral criou incentivos aos políticos para reduzir o poder dos militares, de modo a ampliar seu raio de ação política e eleitoral. Na configuração político-partidária brasileira, com seus laços seculares de clientelismo e um patronato por categorias em franca consolidação (industriais, ruralistas, religiosos, categorias de trabalhadores, grupos regionais), os políticos esforçar-se-iam para contestar o poder militar, mesmo que apenas retoricamente2. Dessa maneira, seja por motivos particulares (clientelismo, redes de poder pessoal e regional), seja por motivos retórico-pragmáticos (quando mesmo a direita mais conservadora adota discursos de apelo populista para se eleger), o livre jogo democrático semearia o conflito entre os interesses dos políticos civis e os dos militares. Por sua vez, a vitória eleitoral ofereceria a legitimidade necessária para desafiar os militares. Segundo esse raciocínio, a ausência de tal legitimidade fez de Sarney refém da tutela militar, o oposto de Collor, que lastreado pelos milhões de votos obtidos em 1989, desafiou e refreou o poder fardado (p. 12).
Depois de descrever o fortalecimento do poder político militar e a manutenção de grande parte de suas prerrogativas até o fim do governo Sarney, a autora escolheu quatro instâncias em que a competição eleitoral teria determinado a erosão da influência militar: as estruturas institucionais do Estado brasileiro, os direitos trabalhistas, a política orçamentária e a definição das políticas para a Amazônia. Em todas elas, de uma maneira ou de outra, os políticos civis tiveram relativo sucesso na ampliação de seus espaços de ação e decisão, em detrimento daqueles ocupados pelos militares.
Por fim, após reforçar seu argumento principal com um rápido estudo comparativo dos casos da transição chilena, argentina e peruana, Hunter conclui que, diferentemente do que afirma a literatura histórico-sociológica das transições, a institucionalização das rotinas democráticas produziu um impacto decisivo para a diminuição do poder político militar, o que pode ser percebido também nos outros países sul-americanos estudados3. Houve, assim, uma notável redução da influência militar na política e, sua contrapartida, a expansão da capacidade de formulação e decisão dos assuntos nacionais pelos políticos civis (p. 140).
Hunter adverte, contudo, que tal redução da influência militar não significa ainda o controle democrático da instituição militar, pois é preciso que os políticos civis tomem para si a responsabilidade de debater e deliberar sobre as questões que envolvam o uso das Forças Armadas. Essa advertência, porém, não invalida sua conclusão: o declínio da influência militar é a tendência mais persistente e consolidada das relações entre os militares e civis no Brasil (p. 173).
Pela originalidade e coerência de sua hipótese principal, pode-se incluir o livro de Hunter como leitura essencial para o estudo da transição para a democracia no Brasil. No entanto, embora a afirmação do declínio atual da influência militar seja algo inquestionável, é duvidoso creditá-lo quase exclusivamente ao papel preponderante dos políticos civis, em busca de vantagens eleitorais. Se sua abordagem das "escolhas racionais" dos políticos brasileiros é brilhante, lamentavelmente sua compreensão das motivações dos militares brasileiros decepciona. Talvez dever-se-ia perguntar se os vários grupos que compõem as Forças Armadas brasileiras estariam mesmo dispostos a enfrentar os políticos e a opinião pública, a nova realidade estratégica mundial e seus próprios dilemas internos, para a manutenção da influência tutelar na política brasileira. Todas as pesquisas a partir dos depoimentos dos personagens militares do regime autoritário e mesmo daqueles que ocuparam postos de destaque nos governos civis, insistem na inviabilidade política e na inconveniência institucional de ins
Explicação: