Contudo, ao observar a rotina de Lília, percebemos que ela tem um grande prestígio dentro da sua comunidade. Por saber ler, escrever e fazer contas, Lília é responsável pelo controle da "caderneta" no mercado, por acompanhar os familiares mais velhos no posto de saúde e conversar com o médico, participar das reuniões pedagógicas na creche dos irmãos e primos mais novos e fazer a leitura das correspondências para os familiares e vizinhos analfabetos.
Por que, apesar de participar ativamente de tantas práticas de letramento, Lília fracassa na escola e é considerada iletrada pelos professores?
Soluções para a tarefa
Resposta: Padrão de resposta esperado
Algumas práticas de letramento são mais valorizadas pela escola enquanto outras são desconsideradas, tornando-se invisíveis. Por não conhecer as práticas de letramento de seus alunos fora do ambiente escolar, a escola fracassa em fazer uso desses conhecimentos na construção de novos conhecimentos que possam alargar ainda mais seu repertório de práticas letradas.
As crianças de contextos mais privilegiados economicamente são geralmente "treinadas" para as práticas esperadas/valorizadas pela escola. Desde muito pequenas, aprendem a manusear cadernos, livros, canetas, etc. Até mesmo o tipo de interação que os familiares têm com essas crianças é uma maneira de prepará-las para a vida escolar - muitos pais fazem perguntas, cujas respostas são conhecidas, para testar o conhecimento dos filhos: "Que horas são?" "Dez horas". "Muito bem!". A escola é desenhada para esse perfil de criança e tem dificuldade de se redesenhar para receber crianças com perfis diferentes, que é o caso da maior parte das crianças no Brasil. Formar professores atentos à realidade dos alunos e abertos a conhecer suas práticas de letramento é um início importante na reformulação do ensino.