Contra racismo, professora usa método que valoriza voz ativa do aluno
Ana Luíza Basílio
Com a metodologia Círculos Narrativos, docente investiga se os estudantes se sentem contemplados pelos conteúdos e pela cultura escolar
Foi a partir da experiência de ter sido uma criança negra em um ambiente escolar predominantemente branco e do conhecimento sobre culturas africanas e indígenas obtido na faculdade de História que a professora Priscila Dias decidiu adotar uma metodologia chamada Círculos Narrativos para enfrentar o racismo e reequilibrar as histórias orais e escritas no espaço escolar.
“Na escola em que estudei, aprendi que o silêncio frente ao racismo e às minhas tradições e costumes apagava a minha identidade e a minha pertença ao mundo. Eu estava na escola, mas culturalmente não fazia parte dela. Estar em um ambiente onde é preciso se adequar, se comportar conforme modos alheios, provar o próprio valor e ser polida o tempo todo é mutilação psíquica, moral, social e cultural. Daí nasceu uma raiva e uma dor que cresceu comigo e que só muito mais tarde pude entender”, conta.
No texto publicado no livro Criatividade: Mudar a Educação, Transformar o Mundo, Priscila também relata o conflito entre o mundo letrado, de conteúdo eurocêntrico, e seu universo particular, herdado da “cultura da voz, da palavra dita, dos relatos de vida e das lições ancestrais” dos pais nordestinos.
A virada na vida de Patrícia, aliás, se deu no terceiro ano do curso de História, quando teve contato com os conteúdos sobre as culturas africanas e indígenas, uma das obrigatoriedades impostas pela Lei 10.6039. [...]
Da teoria à prática
Após a tomada de consciência, Priscila começou seu trabalho de reconstrução das narrativas escolares em uma escola estadual periférica “das mais problemáticas”, segundo ela. “Justamente por ser um espaço que concentra todas as mazelas do abandono da educação e por (des)atender a um público majoritariamente afroascendente e de famílias migrantes, aquela escola foi o ambiente ideal para realizar uma experiência crucial como educadora, pesquisadora e pessoa: os Círculos Narrativos”, explica.
De acordo com a professora, a metodologia objetiva equilibrar as narrativas orais e escritas no espaço escolar a partir de algumas estratégias, como transformar as aulas em espaços de diálogo livre para a troca de ideias e reflexões, onde todos possam falar e escutar relatos dos colegas.
“É um convite para que os estudantes, pensando criticamente sobre a escola, assumam o lugar de sujeitos críticos e coautores dos próprios processos de ensino-aprendizagem. Para tanto, tive, antes de mais nada, que romper por completo com a figura do professor que ameaça, reprime, silencia, coloniza corpos e espíritos, à qual aqueles alunos estavam habituados”, conta.
Outro objetivo dos Círculos Narrativos é estimular os estudantes a relatarem suas vivências dentro do espaço escolar, como sua relação com a escrita e a leitura. Nesse sentido, Priscila conta que os relatos “transbordam insatisfação com a escola e os professores, denunciam a desconexão do currículo com a vida, a falta de escuta, a tensão com as regras e tarefas escolares, vistas como sem sentido, e um profundo desconforto em relação ao mundo letrado”.
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Além disso, a metodologia usada por Priscila também preza pela inclusão dos familiares na dinâmica da escuta, o que, segundo ela, reverbera as inquietações dos alunos. “As falas de uns e outros abrigam o desejo de que a escola fosse o contrário do que tem sido: um espaço de encontro, reconhecimento e troca verdadeiros, não de segregação e humilhação; um lugar de criação e expansão das pessoas, não um cenário de opressão e mutilação cultural”.
No entanto, a professora confessa que ainda enfrenta “resistência institucional” na implantação do método, mas sustenta a “necessidade de descentralizar o saber para além da cultura letrada, apontando caminhos para uma educação intercultural, em conteúdo e forma”.
“Por que a educação oferecida a quem mais precisa dela continua a ser, em grande parte, uma máquina de segregação e genocídio cultural? Minha experiência me garante que a educação pode, sim, ser um espaço de pertença, de afirmação e expansão de identidades, de libertação de corpos, mentes e espíritos”, questiona.
Sobre o livro
O relato completo da experiência da professora Priscila Dias pode ser lido no livro digital Criatividade: Mudar a Educação, Transformar o Mundo, organizado pelo programa Escolas Transformadoras, uma correalização da Ashoka e do Instituto Alana. A obra, que foi escrita por estudantes, professores, gestores, pesquisadores e profissionais do setor social, pode ser baixada gratuitamente.Antes de escrever, planeje seu texto, anotando:
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• o motivo da mensagem (elogiar, criticar, sugerir);
• os argumentos que justificam essa posição.
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okkakkaskksksisssisisis
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