Português, perguntado por tatiblue2003, 11 meses atrás

Como Manoel de Barros retrata a infância e a memória em seus poemas?


É PARA AMANHAAAAA


juliamenegais: qual poema amiga?

Soluções para a tarefa

Respondido por MariaManczak
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Manoel de Barros centra sua escrita na reconstituição de um percurso existencial centrado na sua relação de descobrimento e de trabalho com a linguagem. Desse modo, reproduzindo o passado na busca por elementos identitários, a literatura e o fazer literário são constantes que ocupam boa parte da sua narrativa, evidenciando que essa identidade tem como princípio sua relação com a palavra, ou seja, ele privilegia seu percurso poético retratando o pessoal.

Pode-se esperar que, no decorrer da narrativa de "Memórias", seja possível detectar alguma coisa que aponte para a Cuiabá que viu nascer Manoel de Barros, como isso lhe pareceu na infância e como ficou guardado na memória. A experiência pessoal é a principal realidade, ponto central dessa narrativa.

As poesias tornam-se maiores que o mundo que o completa, pois são nelas que Manoel narra sua vivência e sua experiência.

Ao intitular sua obra "Memórias Inventadas", Barros se refere a uma reflexibilidade entre as três instâncias, uma vez que o desvelamento das memórias, como sendo “a faculdade de reter as ideias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente”, ou mesmo a invenção delas, via de regra, é feito, ou por quem viveu os fatos narrados.

A memória é faculdade individual que, na sua essência, não pode ser compartilhada com mais ninguém. Assim, as memórias são contadas sob o único foco possível: o daquele que lembra, de forma que, ao se saber de algo que não configura na memória, tal imagem só se torna viva através de própria faculdade memorial de quem ouve.

Tal ideia é reforçada pela escolha do narrador de Memórias: o que, apesar de não se configurar como requisito fundamental para o estabelecimento do pacto, é um índice que aponta para sua firmação, pois, ao dizer eu, o narrador afiança o narrado, por tratar de questão da qual tem total conhecimento: suas memórias.

Ao partir do presente para falar de como deu a notícia da sua escolha profissional aos pais e da reação que eles tiveram, Barros revela detalhes com a intimidade de quem os vivenciou, tecendo uma rede de relações que o liga ao poeta que nasceu aos treze, fundindo-os na mesma pessoa que, hoje, tem oitenta e cinco anos e escreve sua trajetória pessoal.

Esse "eu" que narra reenvia ao nome do autor escrito no livro, por dados conhecidos de sua vida, como a idade e sua origem camponesa. Isso reforça um ciclo, no qual se fundem as figuras do autor, representado pelo nome da capa, do narrador, dito com a voz do autor dentro do texto, e do protagonista, que, por retomar ao narrador, recupera imediatamente o autor.

A memória nos tempos da infância de Manoel de Barros é relevante porque, considerando a distância temporal entre o tempo da narrativa e o tempo da narração, a infância encontra-se numa dimensão temporal tão distante, que aumenta a possibilidade de reinvenção desse período pelo narrador. Essa perspectiva de redimensionamento, vai se conformando de acordo com o desejo do autobiógrafo. Tal desejo perpetuativo conduz Manoel de Barros a apresentar ao leitor uma autobiografia que prioriza o seu percurso poético, quase que uma autobiografia intelectual.

O uso de sua memória como fonte para o desenvolvimento da narrativa e a incapacidade desta de dar conta do que realmente se deu, engloba em si uma outra questão que repasse todo o discurso à escrita autobiográfica até o momento.

Muito já se falou sobre a prática metalinguística utilizada por Manoel de Barros o que permite ao leitor acompanhar alguns procedimentos poéticos que, frequentemente, resvalam o humor e a ironia. E será Manoel por Manoel quem dará as explicações: Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que eu faço agora é o que não pude fazer na infância."

A busca de uma memória poética na infância recria um percurso de invenção próprio da poesia de Manoel.

Espero ter ajudado!

Abraços, Mari.

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