Como era a formação político-territorial da Grécia antiga?
História
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A política na Grécia Antiga é certamente uma dos temas mais fascinantes e que tem atraído maior atenção dos estudiosos da antiguidade. Além disso, se em diversas cidades encontramos instituições semelhantes (assembléia, conselho, tribunais), uma cidade e um regime político concentram as atenções: a Atenas democrática dos séculos V e IV a. C., governada pelo conjunto de seus cidadãos que incluía todos aqueles nascidos em Atenas, homens, livres e adultos – ficando excluídas mulheres, escravos, metecos e crianças. A relativa redução da história da política grega à democracia ateniense não é aleatória: se deve tanto à abundancia de fontes atenienses e escassez de fontes de outras cidades, quanto à identidade construída pelos Estados Nacionais democráticos contemporâneos com o regime ateniense. Estes dois fatores contribuíram para formar o chamado “atenocentrismo”, pelo qual a cidade de Atenas no período clássico foi considerada o modelo, a “polis grega por excelência”.
Sabe-se que nas cidades gregas variavam os regimes políticos, da monarquia e tirania à oligarquia e democracia, e portanto os níveis de exclusão variavam: na democracia, mulheres, estrangeiros, escravos e crianças; na oligarquia, acrescentam-se os mais pobres; na monarquia e tirania, em nuances importantes, o conjunto da população.
Mas e os outros, os não-cidadãos? Haveria uma política feita pelos não cidadãos? A resposta para estas questões depende do significado do termo “política”. O termo politike, a rigor, significado tudo aquilo que concerne à polis, à cidade no sentido político e espacial. Entretanto, os estudiosos dos séculos XIX e XX d. C. tenderam a restringir a política a duas esferas. Na linha weberiana (predominante), a política é o que o Estado e as instituições estatais fazem: assim, o estudo da política na Grécia se concentrou nas decisões das assembléias, conselhos e tribunais, nas guerras e alianças entre as cidades, nas leis e decretos.
Política é tudo o que se refere à polis. Neste sentido, participar de um culto cívico, de uma procissão da deusa políade é um ato político, assim como escrever um tratado sobre as poleis existentes e a polis ideal. Mas o que significado quando os sujeitos destes atos não são cidadãos? Se a participação feminina nos cultos cívicos é bem documentada, não é menos importante o fato de que o principal tratado de política da Antiguidade foi escrito por um estrangeiro residente em Atenas, o meteco Aristóteles.
Neste sentido, pode-se afirmar que a política ultrapassa o conjunto dos cidadãos, na medida em que as ações que se voltam para a polis não são todas executadas por cidadãos, ainda que eles tenham desejado criar esta imagem. Isso significa esvaziar, pois, o sentido da política (tudo é política, portanto nada é política)? Talvez uma linha teórica da política, ainda negligenciada pelos historiadores da antiguidade, contribua para essa discussão: a filosofia política de Hannah Arendt. A filósofa alemã, em diversos textos, trabalhou com a idéia de que a política é a ação da liberdade. A formulação é complexa, e não há espaço suficiente para sua exposição aqui; no entanto, pode-se ao menos enunciar algumas possibilidades de pesquisa nesta linha. A ação da liberdade nas cidades gregas era “monopolizada” pelos cidadãos por meio das instituições da polis, únicas a tomarem as decisões legítimas; porém, nem as instituições nem suas decisões davam conta da totalidade das relações sociais da cidade, existindo assim inúmeras brechas nas quais estava aberta a possibilidade de participação política de não cidadãos habitantes das cidades, tais como escravos abrindo processos judiciais contra seus senhores, participação de escravos e metecos nas revoluções políticas das cidades, na ação de mulheres contra ou a favor decisões da assembléia, a elaboração de teorias políticas por metecos, e muitas outras “brechas institucionais” nas quais a liberdade política era realizada. Um estudo assim esvaziaria a política? Ora, em tempos de imperialismo globalizado e formas estatais autoritárias (apesar das aparências democráticas), reduzir a política à ação estatal ou às relações de poder pode significar que, no mundo contemporâneo, a liberdade política só se encontre nos livros de História Antiga.
Sabe-se que nas cidades gregas variavam os regimes políticos, da monarquia e tirania à oligarquia e democracia, e portanto os níveis de exclusão variavam: na democracia, mulheres, estrangeiros, escravos e crianças; na oligarquia, acrescentam-se os mais pobres; na monarquia e tirania, em nuances importantes, o conjunto da população.
Mas e os outros, os não-cidadãos? Haveria uma política feita pelos não cidadãos? A resposta para estas questões depende do significado do termo “política”. O termo politike, a rigor, significado tudo aquilo que concerne à polis, à cidade no sentido político e espacial. Entretanto, os estudiosos dos séculos XIX e XX d. C. tenderam a restringir a política a duas esferas. Na linha weberiana (predominante), a política é o que o Estado e as instituições estatais fazem: assim, o estudo da política na Grécia se concentrou nas decisões das assembléias, conselhos e tribunais, nas guerras e alianças entre as cidades, nas leis e decretos.
Política é tudo o que se refere à polis. Neste sentido, participar de um culto cívico, de uma procissão da deusa políade é um ato político, assim como escrever um tratado sobre as poleis existentes e a polis ideal. Mas o que significado quando os sujeitos destes atos não são cidadãos? Se a participação feminina nos cultos cívicos é bem documentada, não é menos importante o fato de que o principal tratado de política da Antiguidade foi escrito por um estrangeiro residente em Atenas, o meteco Aristóteles.
Neste sentido, pode-se afirmar que a política ultrapassa o conjunto dos cidadãos, na medida em que as ações que se voltam para a polis não são todas executadas por cidadãos, ainda que eles tenham desejado criar esta imagem. Isso significa esvaziar, pois, o sentido da política (tudo é política, portanto nada é política)? Talvez uma linha teórica da política, ainda negligenciada pelos historiadores da antiguidade, contribua para essa discussão: a filosofia política de Hannah Arendt. A filósofa alemã, em diversos textos, trabalhou com a idéia de que a política é a ação da liberdade. A formulação é complexa, e não há espaço suficiente para sua exposição aqui; no entanto, pode-se ao menos enunciar algumas possibilidades de pesquisa nesta linha. A ação da liberdade nas cidades gregas era “monopolizada” pelos cidadãos por meio das instituições da polis, únicas a tomarem as decisões legítimas; porém, nem as instituições nem suas decisões davam conta da totalidade das relações sociais da cidade, existindo assim inúmeras brechas nas quais estava aberta a possibilidade de participação política de não cidadãos habitantes das cidades, tais como escravos abrindo processos judiciais contra seus senhores, participação de escravos e metecos nas revoluções políticas das cidades, na ação de mulheres contra ou a favor decisões da assembléia, a elaboração de teorias políticas por metecos, e muitas outras “brechas institucionais” nas quais a liberdade política era realizada. Um estudo assim esvaziaria a política? Ora, em tempos de imperialismo globalizado e formas estatais autoritárias (apesar das aparências democráticas), reduzir a política à ação estatal ou às relações de poder pode significar que, no mundo contemporâneo, a liberdade política só se encontre nos livros de História Antiga.
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