Buraco no Quintal
Luiz Carlos Pimentel
Desde que me entendo por gente, sempre foi assim,
um direito correspondendo a um dever:
– Pai, dá dinheiro para eu ir ao cinema?
– Precisa engraxar sapato e levar o lixo para fora.
Qual dos dois você quer?
– Sapato.
– Tá, então engraxa e vem pegar o dinheiro.
Essa era a lição inicial, simples preparação para o
curso avançado, cuja teoria cabia em duas frases: “A
vida é dura. Não pode dar mole pra ela”.
Para mim, a moleza acabou de vez quando eu tinha
12 anos. Nós, pai, mãe e seis filhos, morávamos nos
Jardins, um dos bairros mais valorizados de São
Paulo. Naquela vizinhança rica, vivíamos numa
casa grande, com espaço demais para todos, mas
dinheiro de menos para mantê-la ou mesmo
acompanhar o padrão do bairro – isso fazia, por
exemplo, com que eu tivesse de estudar em escola
pública (não era exatamente uma alegria, mas, pelo
menos, me ensinou a conviver e transitar por
diferentes classes sociais). E foi nesse cenário que
meu pai sonhou em ter uma piscina com
churrasqueira.
Contratou uma empresa para fazer o serviço. Mal a
obra começou, a tal empresa faliu. E nós ficamos ali,
sem piscina, sem churrasco, sem dinheiro para
contratar outra empresa, sem opção – só um buracão
no meio daquele que um dia fora nosso jardim,
campo de futebol e playground. Mas, de noite, o pai
reuniu a família nos costumeiros jantares a oito e
decretou: “Nós mesmos vamos construir a piscina
com churrasqueira”. Na hora, ele não disse, mas o
fato é que essa decisão embutia outra de suas
valiosas lições: “Ganhou fácil, gasta fácil. Ganhou
difícil, gasta difícil.”
Lá fomos nós “ganhar difícil”. Durante muitas
semanas, passei sábados, domingos e feriados
carregando areia, misturando cimento, assentando
azulejos. Meus amigos ricos vinham me visitar e
não entendiam nada. As meninas lindas que eu
queria impressionar no colégio apareciam em casa
de surpresa e me pegavam com chapéu de pedreiro.
Na época, foi horrível. Mas foi ali que aprendi na
carne o valor de batalhar por aquilo que se quer. A
piscina, a propósito, ficou excelente, inaugurada
com uma inesquecível picanha.
só tenho duas dúvidas
1 - transcreva trechos que mostram que o narrador também é o autor do texto.
2 - Qual o fato principal do texto lido?
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Explicação:
pela matematica
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