Aula de português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Gois, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos da linguagem em:
Escolha uma:
a. Diferentes regiões do país.
b. Escolas literárias distintas.
c. Textos técnicos e poéticos.
d. Diferentes épocas.
e. Situações formais e informais.
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Soluções para a tarefa
Resposta: E) Situações formais e informais.
Explicação: O poema de Drummond, que tem o sugestivo título Aula de Português, discute a distinção entre a língua portuguesa estudada na escola e a língua utilizada pelos falantes, em situações informais (daí serem “dois”: um conhecido pelos falantes; o outro, ensinado na escola, “mistério”). Para marcar essa distinção, o poeta lança mão de situações de emprego formal e de situações de emprego informal: a linguagem utilizada pelos poetas clássicos, “na superfície estrelada das letras”, e pelos professores de Português, individualizados na figura do professor, filólogo e dicionarista brasileiro Carlos Góis (1881-1934), autor de gramática normativa, exemplificam o primeiro caso; a língua em que “se come” (ou em que se pede comida) e em que se namora, exemplificando o segundo caso, essa está na “ponta da língua, tão fácil de falar e de entender”.