As turmas povoadoras que para lá [Acre] seguiam deparavam com um estado social que ainda mais lhes engravecia a instabilidade e a fraqueza. Aguardava-as, e ainda as aguarda, a mais imperfeita organização do trabalho que ainda engenhou o egoísmo humano. Repitamos: o sertanejo emigrante realiza, ali, uma anomalia sobre a qual nunca é desnecessário insistir: é o homem que trabalha para escravizar-se. Ele efetua, à sua custa e de todo em todo desamparado, uma viagem difícil, em que os adiantamentos feitos pelos contratadores insaciáveis, inçados de parcelas fantásticas e de preços inauditos, o tranformam as mais das vezes em devedor para sempre insolvente. A sua atividade, desde o primeiro golpe de machadinha, constringe-se para logo num círculo vicioso inaturável: o debater-se exaustivo para saldar uma dívida que se avoluma, ameaçadoramente, acompanhando-lhe os esforços e as fadigas para saldá-la. E vê-se completamente só na faina dolorosa. A exploração da seringa, neste ponto pior que a do caucho, impõe o isolamento. Há um laivo siberiano naquele trabalho. Dostoiévski sombrearia as suas páginas mais lúgubres com esta tortura: a do homem constrangido a calcar durante a vida inteira a mesma "estrada", de que ele é o único transeunte, trilha obscurecida, estreitíssima e circulante, ao mesmo ponto de partida. Nesta empresa de Sísifo a rolar em vez de um bloco o seu próprio corpo – partindo, chegando e partindo – nas voltas constritoras de um círculo demoníaco, no seu eterno giro de encarcerado numa prisão sem muros, agravada por um ofício rudimentar que ele aprende em uma hora para exercê-lo toda a vida, automaticamente, por simples movimentos reflexos – se não o enrija uma sólida estrutura moral, vão- se-lhe, com a inteligência atrofiada, todas as esperanças, e as ilusões ingênuas, e a tonificante alacridade que o arrebataram àquele lance, à ventura, em busca da fortuna. Euclides da Cunha, 1866-1909. Um clima (fragmento). In: Um paraíso perdido: reunião de ensaios amazônicos. Ed. Vozes, 1976 (com adaptações) Com referência às ideias do texto, pode-se dizer que é desejo do autor fazer ver que A os sertanejos, desprotegidos, tornam-se devedores dos seus contratantes logo após terem iniciado o trabalho no seringal. B o isolamento que o trabalho impõe ao sertanejo é semelhante ao exílio a que foram submetidos inte- lectuais e políticos que se revoltaram contra o regi- me soviético em século passado. C opõe sertanejos e intelectuais ao afirmar: "Há um laivo siberiano naquele trabalho" (L. 21-22). D ressalta que o sertanejo está condenado a repetir, perpetuamente e sem alento, um labor penoso e embrutecedor. Isso é perceptível ao denominar o trabalho no seringal de "empresa de Sísifo" (L. 27). E dotados de firme espírito de luta, os sertanejos que trabalham na exploração da seringueira mantêm, durante a execução dessa atividade, a esperança e a motivação que os levaram a empreender a via- gem em busca de riqueza. Isso é notório no período final do texto.
Soluções para a tarefa
Respondido por
1
D ressalta que o sertanejo está condenado a repetir, perpetuamente e sem alento, um labor penoso e embrutecedor. Isso é perceptível ao denominar o trabalho no seringal de "empresa de Sísifo" (L. 27).
O autor procura buscar a prática do seringal como uma prática de subsistência e de plena necessidade por parte dos seringueiros, caracterizada como um labor penoso e embrutecedor.
Diante disso, trata-se de uma prática que perdura até os dias de hoje, no sentido de que os seringueiros adquiram condições mínimas de sobrevivência para suas famílias.
Perguntas interessantes