As mulheres nas lutas pela independência da América
O texto a seguir é da historiadora Maria Ligia Prado, professora de História da América Latina da Universidade de São
Paulo. Leia-o com atenção.
Em busca da participação das mulheres nas lutas pela independência política da América Latina
Quando se fala em exército, nesse período, vemos sempre homens marchando a pé ou a cavalo, lutando. Esquecemo-nos
de que as mulheres, muitas vezes com filhos, acompanhavam seus maridos/soldados; além disso, como não havia
abastecimento regular das tropas, muitas trabalhavam cozinhando, lavando ou costurando, em troca de algum dinheiro. [...]
Entretanto, a figura [...] de mulher/soldado é Juana Azurduy de Padilha, nascida em Chuquisaca (hoje Sucre na Bolívia),
em 1780, que, junto com o marido, homem de posses, dono de fazenda, liderava um grupo de guerrilheiros. Lutando pela
independência, participou de 23 ações armadas, algumas sob seu comando, perdendo, ao longo desses embates, todos os
seus bens. Ganhou fama por sua coragem e habilidade, chegando a obter a patente de tenente-coronel.
[...] Outra história exemplar é a de Gertrudes Bocanegra, famosa heroína mexicana [...]. Presa com suas três filhas, foi
condenada à morte por se recusar a denunciar os companheiros. Foi fuzilada em 1817 [...]. Dessa maneira, Maria
Quitéria de Jesus, a jovem baiana que “ardia de amor pela pátria”, se vestiu de homem para lutar pelo Brasil ,ganha
uma perspectiva diversa [...], deixando de ser uma exceção absoluta para ser pensada dentro de um quadro mais amplo de
participação das mulheres nesses movimentos. [...]
Em uma palavra, foi esquecido ou ocultado que as mulheres participantes dos movimentos pela independência atuaram
num circuito claramente identificado como o da política, motivadas por ideias, sentimentos e crenças que as levaram a
romper com os padrões sociais e religiosos vigentes. Sua notável coragem – especialmente nos momentos trágicos da
prisão e condenação – indica que estavam preparadas para aceitar as consequências das escolhas efetuadas.
PRADO, Maria Ligia Coelho. Em busca da participação das mulheres nas lutas pela independência política da América Latina. Revista
Brasileira de História, São Paulo, v. 12, n. 23/24, set. 1991/ago. 1992. Disponível em:
1- A que se deve o esquecimento ou ocultamento da participação das mulheres nos movimentos de libertação latino-
americanos?
Soluções para a tarefa
Resposta:
Apresenta uma revisão histórica do papel feminino na sociedade brasileira, que atribui às mulheres uma atuação predominante no espaço privado, o que pode explicar a pequena presença das mulheres, como protagonistas, na cena política. Embora inseridas e intensamente atuantes na política partidária, bem como nos diferentes contextos políticos vividos pelo país – movimento operário, luta pelo sufrágio feminino e contra a ditadura - raramente as mulheres chegam a exercer um cargo político eletivo ou por nomeação. Esta atividade permanece associada ao papel masculino, numa dicotomia público/privado própria da modernidade. A reflexão proposta indica que uma maior inserção feminina no cenário político brasileiro supõe modificações quanto à expectativa social de gênero e, ao mesmo tempo, questionamentos quanto ao padrão atual.