América Latina urbanização resumo
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A visão panorâmica do estado do conhecimento e da problemática latino-americana nos temas de urbanização, migrações e território tem alguns pontos de referência básicos. O primeiro deles foi a guinada crucial no desenvolvimento humano que representou a possibilidade de vida sedentária em aglomerações de porte significativo, as cidades. Esse fenômeno ocorreu em época mais ou menos recente, há cerca de 5 mil anos, associado ao aparecimento da agricultura e de excedentes alimentares suficientes para separar a população desses trabalhos de subsistência. Conforme as regiões, apareceu entre 8500 a. C. e 5000 a. C., ou seja, muito recentemente ou, se se preferir, muito tarde, alguns milhares de anos depois do aparecimento do homem na Terra. A cidade emergiu, segundo as regiões, entre 3500 a. C. e 500 a. C., embora a verdadeira cidade remonte a somente 2 ou 3 mil anos.
A necessidade de viver em grupo, de associar-se para a defesa e também para a inovação – o exercício do amor, como bem disse Humberto Maturana –, encontrou na cidade um cenário privilegiado. A cidade é o refúgio perante a adversidade do meio natural e humano, ao mesmo tempo que poderoso instrumento de dominação (social e territorial), de controle (cultural e comportamental), de propagação de enfermidades e de criação: são próprias da cidade a densidade demográfica, a vizinhança e a intensidade e variedade de contatos humanos, caldo de cultura ideal para a inovação cultural, social, tecnológica e institucional.
A cidade como fato transforma as relações dos seres humanos não somente entre si (inovação, controle), mas também com o ambiente natural (dominação, apropriação), ampliando e diversificando o impacto da sociedade sobre eles. Cada grupo mantém suas relações com o meio tanto de forma direta, com seu entorno imediato, como pelas conexões estabelecidas com outras cidades, por meio da rede ou da malha urbana. Essa trama evolui em razão de mudanças técnicas e tecnológicas nos meios de transporte e comunicação, bem como nas instituições, principalmente políticas. As noções de Estado, nação e colônia fazem referência a formas particulares de integração de unidades de controle ou de identidade, com base territorial. O território aparece, então, com a dupla conotação de meio natural autônomo e de espaço físico submetido a alguma forma de controle. Posteriormente, será agregada mais uma nobre e contemporânea acepção que sugere a existência de uma simbiose sociedade-natureza mediada por relações de identidade, de sentido de pertencimento, não necessariamente de domínio.
A industrialização despedaçou barreiras milenares que mantiveram as cidades dentro de limites restritos e as projetaram como forma predominante de assentamento humano, em meio, além disso, de uma inédita explosão demográfica. Entre 1000 e 1500 anos depois do aparecimento da primeira cidade, a taxa de urbanização alcançou um nível próximo do máximo possível no contexto de sociedades tradicionais. Esse máximo se situou ao redor de 10% a 15%. Do ano 0 ao 1300 da era cristã, o número de citadinos no mundo no máximo dobrou. De 1300 a 1800 a taxa de urbanização permaneceu estável, embora também tenha dobrado o número de citadinos, levando em conta que a população total do mundo dobrou. Mas, em menos de dois séculos – de 1800 a 1980 –, o número de citadinos se multiplicou por vinte, e a taxa de urbanização passou de 9% para 38%. Essa generalização e esse predomínio da cidade como forma de assentamento é o que contemporaneamente se conhece como urbanização. O conceito também é usado em referência à expansão das fronteiras de cada cidade considerada individualmente.