Alguém poderia fazer uma análise do poema Revelação de Augusto dos anjos
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O poema na íntegra
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Análise e interpretação do poema Versos Íntimos
Este poema transmite uma visão pessimista da vida. A linguagem usada pelo autor pode ser considerada uma crítica ao parnasianismo, um movimento literário conhecido pela linguagem erudita e romantismo exacerbado.
Esta obra revela também a dualidade na vida do ser humano, indicando como tudo pode mudar, ou seja, as coisas boas podem se transformar rapidamente em coisas más. Existe também um contraste entre o título e a realidade revelada pelo poeta, pois o título "versos íntimos" pode remeter para o romantismo, algo que não se verifica no conteúdo do poema.
Em seguida revelamos uma possível interpretação de cada estrofe:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
É mencionado o enterro da última quimera que neste caso indica o fim da esperança ou do último sonho. É transmitida a ideia que ninguém se importa com os sonhos destruídos dos outros porque as pessoas são ingratas como animais selvagens (neste caso uma feroz pantera).
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
O autor utiliza o imperativo dando o conselho que quanto mais cedo a pessoa se acostuma com a cruel e miserável realidade do mundo, será mais fácil. O Homem voltará à lama, regressará ao pó, está destinado a cair e a se sujar na lama. Ele afirma que o Homem vive no meio de feras, de pessoas sem escrúpulos, más, sem compaixão e que por isso, ele também tem que se adaptar e ser também uma fera para viver neste mundo. Esta estrofe está de acordo com a famosa frase "O homem é o lobo do homem".
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
O poeta utiliza a linguagem coloquial, convida o "amigo" (para quem escreveu o poema) a se preparar para traições, para a falta de consideração do próximo. Mesmo quando temos demonstrações de amizade e de carinho como um beijo, isso é apenas o prenúncio de algo mau. Aquele que hoje é teu amigo e te ajuda, amanhã te abandonará e causará dor. A boca que beija é aquela que vai cuspir em seguida, causando dor e desilusão.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
O autor faz a sugestão de "cortar o mal pela raiz", para evitar o sofrimento no futuro. Para isso, ele deve cuspir na boca de quem o beija e apedrejar a mão que o acaricia. Isso porque, de acordo com o poeta, mais cedo ou mais tarde, as pessoas irão nos desiludir e machucar.