Question

A torta da sua avó era mesmo a melhor do mundo?


[...] Acho que todos conhecemos pessoas (quando não, nós mesmos) que garantem nunca ter havido um bolo de chocolate como o da sua mãe. Ou que o molho de tomate da sua avó era o melhor do mundo [...]. Quem haverá de discutir? Muitos deles talvez tenham sido de fato bons, quando não sensacionais [...]. Outros, tornaram-se bons por um contexto de emoção, de saudade.


Se eu recuar ao máximo que a consciência alcança, chegarei à minha experiência ou memória gustativa mais antiga e marcante: as peles e gordurinhas que grudavam na assadeira usada pela minha avó nos almoços de domingo. [...] Todo mundo já havia terminado de comer [...] e eu ia até a cozinha, pegava a assadeira [...] e raspava tudo o que estava grudado no fundo. [...]


Não preciso tratar essa excêntrica gulodice infantil como se fosse a defesa de uma iguaria familiar. Antes de tudo, [...] aquele era um “defeito especial” culinário. Explico. Se a assadeira fosse de algum material moderno, antiaderente, eu não disporia daquele fundinho para futucar e morder tal e qual uma porção de snacks crocantes. E tinha valor porque era a comida da matriarca [...].


As coisas que existiam no passado costumam adquirir, com os anos, qualidades que extrapolam critérios mais objetivos. [...] Certa vez, conversando com um dos maiores chefs espanhóis, Quique Dacosta, perguntei sobre sua paella1 preferida [...]. Ele respondeu: “A da minha mãe. Embora, tecnicamente, fosse um desastre”. Faz todo sentido. Não há como competir com as receitas do afeto, mesmo quando as execuções e os ingredientes deixam a desejar. [...]


Existe, por outro lado, uma constante dualidade entre a vontade de rever e o medo de macular2 memórias agradáveis. No meu caso, isso ocorre especialmente quando não estou muito seguro das reais qualidades de um objeto. [...]


Depois de anos comendo profissionalmente, posso me debruçar sobre uma receita do caderninho da minha avó e, de forma divertida, constatar que ela contém quilos de açúcar, margarina e outras coisas mais que não entram na minha geladeira. E, ainda assim, me recordar com carinho e bonomia3. [...]


*Vocabulário:
1paella: prato espanhol à base de arroz e frutos do mar.
2macular: comprometer, prejudicar.
3bonomia: bondade de coração e simplicidade de maneiras.



Nesse texto, qual trecho apresenta a tese defendida pelo autor?
“... conhecemos pessoas (quando não, nós mesmos) que garantem nunca ter havido um bolo de chocolate como o da sua mãe..”. (1º parágrafo)
“Muitos deles talvez tenham sido de fato bons, quando não sensacionais.”. (1º parágrafo)
“Se eu recuar ao máximo que a consciência alcança, chegarei à minha experiência ou memória gustativa mais antiga e marcante:...”. (2º parágrafo)
“As coisas que existiam no passado costumam adquirir, com os anos, qualidades que extrapolam critérios mais objetivos.”. (4º parágrafo)
“... posso me debruçar sobre uma receita do caderninho da minha avó e, de forma divertida, constatar que ela contém quilos de açúcar,...”. (6º parágrafo)

Answer 1

Resposta:

Letra C-“Se eu recuar ao máximo que a consciência alcança, chegarei à minha experiência ou memória gustativa mais antiga e marcante:...”. (2º parágrafo)

Explicação:

Na minha opinião essa é a alternativa correta. Espero ter ajudado.

Answer 2

Resposta: Alternativa (C):

"Se eu recuar ao máximo que a consciência alcança, chegarei a minha experiência ou memória gustativa mais antiga e marcante:... ". (2° parágrafo).

Explicação: Espero ter ajudado!!! Bons estudos!!!