A sereníssima República (Conferência do cônego Vargas) [...] Minha descoberta não é recente; data do fim do ano de 1876. [...] Senhores, vou assombrar-vos, como teria assombrado a Aristóteles, se lhe perguntasse: Credes que se possa dar um regime social às aranhas? Aristóteles responderia negativamente [...] porque é impossível crer que jamais se chegasse a organizar socialmente esse articulado arisco, solitário, apenas disposto ao trabalho, e dificilmente ao amor. Pois bem, esse impossível fi-lo eu. Ouço um riso, no meio do sussurro de curiosidade. Senhores, cumpre vencer os preconceitos. A aranha parece-vos inferior, justamente porque não a conheceis. [...] Quanto aos seus talentos, não há duas opiniões. Desde Plínio até Darwin, os naturalistas do mundo inteiro formam um só coro de admiração em torno desse bichinho [...]. Citando Darwin e Büchner, é claro que me restrinjo à homenagem cabida a dois sábios de primeira ordem [...]. Sim, senhores, descobri uma espécie araneida que dispõe do uso da fala [...] e organizei-os socialmente. O primeiro exemplar dessa aranha maravilhosa apareceu-me no dia 15 de dezembro de 1876. [...] No dia seguinte vieram mais três, e as quatro tomaram posse de um recanto de minha chácara. Estudei-as longamente; achei-as admiráveis. Nada, porém, se pode comparar ao pasmo que me causou a descoberta do idioma araneida, uma língua, senhores, nada menos que uma língua rica e variada, com [...] os seus verbos, conjugações [...]. E fi-lo, notai bem, vencendo dificuldades [...] com uma paciência extraordinária. Vinte vezes desanimei; mas o amor da ciência dava-me forças para arremeter a um trabalho que, hoje declaro, não chegaria a ser feito duas vezes na vida do mesmo homem. [...]
ASSIS, Machado de. A sereníssima República. Disponível em: . Acesso em: 8 abr. 2022. Fragmento.
Esse texto tem como contexto social
A) a busca por uma linguagem nacional.
B) a exaltação da vida simples no campo.
C) a idealização da natureza.
D) a retomada de valores clássicos.
E) a valorização de teorias científicas.
Soluções para a tarefa
Resposta:
letra
(B)
Explicação:
O texto "A Sereníssima República" de Machado de Assis usa de um cenário acadêmico, a realização de uma conferência científica e metáforas com aranhas, para denunciar irregularidades políticas por meio da apropriação das leis do estado.
Sabendo disso a única resposta correta é a letra E.
Machado de Assis
Foi um grande escritor brasileiro, considerado por muitos especialistas o maior nome da literatura brasileira, e responsável por inaugurar o Realismo no Brasil.
O conto "A Sereníssima República" faz parte da coletânea "Papéis Avulsos" de 1882. O conto se passa no cenário acadêmico, em que o cônego Vargas apresenta sua teoria, que apesar de incompleta, precisava ser divulgada, já que um pesquisador inglês também avançavam nos estudos, para que o crédito não recaísse somente no estrangeiro.
Por meio da metáfora machadiana, "A Sereníssima República" reduz a sociedade a um sistema politicamente caótico. Com o decorrer das eleições e as diversas falhas, as aranhas buscam adaptar o processo eleitoral.
Machado coloca em sua obra uma crítica severa a proposta legislativa que é constantemente burlada por políticos que se consideram acima da lei e do povo.
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