A questão se refere ao poema de Astrid Cabral, reproduzido a seguir. Natal Queimou-se a palha desvaneceu-se a gruta apagou-se a estrela. Onde Jesus na orgia de tanta falsa luz? Desertas as igrejas repletas as lojas. Tangem sinos em surdina enquanto alto tilintam caixas registradoras. Sob fitas cujos laços não enlaçam os corações — duros que nem moedas — montanhas de embrulhos que a fé não remove. No calvário do exílio pinheiros moribundos sob um carnaval precoce murcham ao peso de lâmpadas bolas rabichos de prata! A alegria bem talhada pelo figurino do consumo enquanto a sede do vinho e a fome do pão habitam os lares de outros cristos. Vagas de náusea solapam-me a mesa cintilante e farta onde o açúcar cristal tornou-se vidro moído. E eis que minha alma náufraga lá se vai também murcha junto às passas de Málaga. CABRAL, Astrid. De déu em déu: poemas reunidos. Rio de Janeiro: Sete Letras, 1998. p. 286. No final do poema, o eu lírico se confessa nauseado diante da mesa natalina. Escolha e interprete duas imagens utilizadas por ele para exprimir seu sentimento.
Soluções para a tarefa
Resposta:
o sentimento dele certamente deveria ser de alívio por ter se abrido
Resposta:
Explicação:Nos versos finais há três imagens fortes que exprimem o sentimento do sujeito lírico: 1 – “o açúcar cristal tornou-se vidro moído” (interpretação possível: nos excessos da mesa natalina, o açúcar, ingrediente dos doces destinados ao prazer do paladar, provoca a dor e o sofrimento do eu lírico, que pensa nos “outros Cristos” que padecem de fome); 2 – “alma náufraga” (interpretação possível: em meio à exaltação e à alegria da festa, a alma do eu lírico sucumbe, naufraga, afoga-se na tristeza, ao pensar nos “lares de outros Cristos); “lá se vai também murcha junto / às passas de Málaga” (interpretação possível: em contraste à expansão festiva, à exultação, o sujeito lírico se recolhe, se encolhe, murcha como as uvas-passas).