A) Quem obtem distúrbios alimentares?pless
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Resposta:
Anorexia Nervosa
Etimologicamente, o termo anorexia deriva do grego "an-", deficiência ou ausência de, e "orexis", apetite. Também significando aversão à comida, enjôo do estômago ou inapetência, as primeiras referências a essa condição surgem com o termo fastidium em fontes latinas da época de Cícero (106-43 aC.) e vários textos do século XVI. Já a denominação mais específica "anorexia nervosa" surgiu com William Gull a partir de 1873, referindo-se à "forma peculiar de doença que afeta principalmente mulheres jovens e caracteriza-se por emagrecimento extremo[...]" cuja "falta de apetite é [...]decorrente de um estado mental mórbido e não a qualquer disfunção gástrica[...]".1 Atualmente o termo "anorexia" não é utilizado em seu sentido etimológico para a "anorexia nervosa", visto que tais pacientes não apresentam real perda de apetite até estágios mais avançados da doença, mas sim uma recusa alimentar deliberada, com intuito de emagrecer ou por medo de engordar.2
Durante a idade média, as práticas de jejum foram compreendidas como estados de possessão demoníaca ou milagres divinos. Em seu livro "Holy Anorexia", Bell3 (1985) relata o comportamento anoréxico realizado por 260 santas italianas (que teriam vivido entre 1200 e 1600) aparentemente em resposta à estrutura social patriarcal a qual estavam submetidas, e conhecido como "anorexia sagrada". Pela supressão de necessidades físicas e sensações básicas (como cansaço, impulso sexual, fome e dor) elas pareciam liberar o corpo e alcançar metas espirituais superiores, porém às crenças religiosas pareciam se misturar a outras intenções das jovens, como a perda dos atrativos femininos. Bastante conhecido é o caso de Santa Catarina de Siena que aos 15 anos, após a morte de sua irmã (parturiente) e diante de projetos futuros de casamento, iniciou restrição alimentar, preces e práticas de auto-flagelamento, chegando a induzir vômito através de ervas e galhos na garganta quando forçada a alimentar-se. Catarina havia feito um voto de castidade quando ainda era criança. A inanição haveria gerado um estado psicológico de constante vigília e experiências místicas, vindo a falecer de desnutrição aos 32 anos.
Embora não se possa afirmar que a atual concepção de anorexia nervosa esteja relacionada aos casos de "anorexia sagrada", em virtude de documentação falha e incerteza quanto às reais motivações, sentimentos e crenças das santas, alguns paralelos são evidentes: ambas não toleram as conseqüências do "comer", ambas representam "estados ideais" (beatitude na Itália medieval e magreza no ocidente atual) e evitação da sexualidade, do egoísmo e do alimento. Em ambos os quadros se descrevem excesso de atividades, perfeccionismo, constante vigilância, desinteresse por relacionamentos comuns, auto-suficiência e preferência por cuidar dos outros ao invés de serem cuidadas.
Morton é o autor do primeiro relato médico de anorexia nervosa de 1689, em livro sobre doenças consumptivas, no qual descreve dois casos de "consumpção de origem nervosa". O autor comenta sobre a influência mútua entre processos mentais e físicos e ressalta o papel patogênico das emoções. Estes quadros não eram acompanhados de febre ou dispnéia, mas caracterizavam-se pela diminuição do apetite, amenorréia, aversão à comida, obstipação, emagrecimento extremo e hiperatividade. O autor se mostra intrigado pela indiferença característica que essas pacientes denotam em relação a seu estado de desnutrição e pela preservação de suas faculdades mentais básicas.
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