"[...] a melhor luta contra o racismo é a aceitação e o conhecimento". De que modo se constroem as visões do corpo para que a aceitação e o conhecimento se concretizem?
Soluções para a tarefa
A história do corpo humano é a história da civilização. Cada sociedade, cada cultura age sobre o corpo determinando-o, constrói as particularidades do seu corpo, enfatizando determinados atributos em detrimento de outros, cria os seus próprios padrões. Surgem, então, os padrões de beleza, de sensualidade, de saúde, de postura, que dão referências aos indivíduos para se construírem como homens e como mulheres. Ao longo do tempo, esses modelos produziram a história corporal, funcionando como mecanismos codificadores de sentido e produtores da história corporal (Rosário, 2006), percebendo-se que as mudanças que foram acontecendo na noção de corpo foram oriundas das mudanças no discurso.
Assiste-se actualmente a uma espécie de reinvenção da cultura onde o cyberespaço e a realidade virtual põem em questão a própria existência do real e do seu sentido. Podemos viver afectivamente essa perda, mas ter em atenção que o virtual não se opõe ao real, havendo entre eles uma relação entre o actual e o virtual, um modo próprio de ser do real que se associa a um processo de "desterritorialização"e a novos fenómenos espaço-temporais (Tucherman, 2004, p.13). De facto, perplexidade parece ser o sentimento mais frequente experienciado nos nossos dias. Vemo-nos incapazes de, ou mal preparados para, entendermos o que constituía a nossa sensação de realidade, aquilo que éramos e o que somos. Surgem então outras questões. Quem somos nós, humanos? O que é ser um corpo? O que é ter um corpo? O que é hoje a nossa corporeidade? Que possibilidades nos são abertas e que experiências nos são possíveis?
Assim, para se conhecer os sentidos construídos para o corpo humano no presente, será necessário fazer uma caminhada, ainda que breve, pela História e observar as diferentes formas de tratar o corpo, a sexualidade, os géneros.
Modifica-se o ambiente, os afectos, e é a pensar num corpo dinâmico, construído pela cultura e pela sociedade que tentaremos falar do corpo e da sua história, entendendo que o mais importante não será a delimitação de datas e épocas, mas a descrição dos traços que se destacaram em determinados períodos, visando compreender melhor o corpo de hoje. É importante salientar que os períodos considerados não se constituem de forma independente uns dos outros, mas vão-se encadeando uns nos outros ao longo do tempo.
Começamos por uma breve passagem pela experiência da polis grega, seguindo pelo cristianismo e suas contrariedades, pela Idade Média e pelos tempos modernos e do corpo em crise, terminando com as novas noções de corpo e cybercorpo, levantando e discutindo alguns dos traços mais marcantes do corpo na pós-modernidade, sempre com a ideia de que falamos de uma história ainda em aberto e em constante devir.
1.1. A idealização do corpo: a Grécia antiga
A imagem do corpo grego, ainda hoje atraente e considerada uma referência, é bastante revelador da existência e dos ideais estéticos veiculados na altura. Na verdade, este corpo era radicalmente idealizado, treinado, produzido em função do seu aprimoramento, o que nos indica que ele era, contrariamente a uma natureza, qualquer que ela fosse, um artifício a ser criado numa civilização que alguns helenistas chamam de "civilização da vergonha" por oposição à judaico-cristã que será uma "civilização da culpa" (Dodds, 1988, citado por Tucherman, 2004). Assim, a imagem idealizada corresponderia ao conceito de cidadão, que deveria tentar realizá-la, modelando e produzindo o seu corpo a partir de exercícios e meditações. O corpo era visto como elemento de glorificação e de interesse do Estado.
O corpo nu é objecto de admiração, a expressão e a exibição de um corpo nu representava a sua saúde e os Gregos apreciavam a beleza de um corpo saudável e bem proporcionado. O corpo era valorizado pela sua saúde, capacidade atlética e fertilidade. Para os gregos, cada idade tinha a sua própria beleza e o
Resposta:
Surgem, então, os padrões de beleza, de sensualidade, de saúde, de postura, que dão referências aos indivíduos para se construírem como homens e como mulheres. Ao longo do tempo, esses modelos produziram a história corporal, funcionando como mecanismos codificadores de sentido e produtores da história corporal (Rosário, 2006), percebendo-se que as mudanças que foram acontecendo na noção de corpo foram oriundas das mudanças no discurso.