Português, perguntado por thaigoes340, 8 meses atrás

a discussão do carioca com o pau- de- arara. Qual problema social é retratado nesse cordel?​

Soluções para a tarefa

Respondido por raimundairene0405
5

Resposta:

Já que sou simples poeta

poesia é meu escudo

com ela é que me defendo

já que não tive outro estudo

vou mostrar para o leitor

que o poeta escritor

vive pesquisando tudo

Certo dia feriado

sendo o primeiro do mês

fui tomar uma cerveja

no bar de um português

lá assisti uma cena

agora pego na pena

para contar pra vocês

Quando eu estava sentado

chegou nessa ocasião

um velho pernambucano

daqueles lá do sertão

com a maior ligeireza

foi se sentando na mesa

pediu uma refeição

O português logo trouxe

um prato grande sortido

o nortista vendo aquilo

ficou logo enfurecido

com um gesto carrancudo

começou mexendo tudo

depois falou constrangido

Patrício não leve a mal

nem me queira achar ruim

toda espécie de comida

que você tem é assim?

desculpe minha expressão

mas a sua refeição

não vai servir para mim

Nesta hora o português

ficou zangado também

lhe respondeu ora bola

donde é que você vem?

difamando deste jeito

me diga qual o defeito

que esta comida tem?

O nortista disse eu sofro

um ataque entistinal

a carne está quase podre

o arroz tem muito sal

o feijão está azedo

de comer eu tenho medo

que pode me fazer mal

— O meu estômago não dá

pra receber este entulho

prefiro morrer de fome

mas não como este basculho

pois comendo sei que morro

lá no norte nem cachorro

não come todo bagulho

O português respondeu

você é péssimo freguês

vá embora e faz favor

não vir aqui outra vez

mas antes tem que pagar

não posso lhe perdoar

a desfeita que me fez

O nortista disse eu pago

que isto não me embaraça

para você não pensar

que eu vim comer de graça

mas o nortista de nome

embora morra de fome

mas não come esta desgraça

Acontece que ali

se achava um carioca

disse ele só conhece

farinha de mandioca

todo nortista poeira

só gosta de macacheira

girimum e tapioca

Disse o nortista é porisso

que o nordestino é forçoso

porque no meu velho norte

se come pirão gostoso

com farinha de mandioca

aqui só dá carioca

doente tuberculoso

C. — Respondeu o carioca

não queira tanto agravar

seu nordeste é muito bom

mas lá ninguém quer ficar

deixou lá seu pé de serra

e veio pra minha terra

para poder escapar

N. — A qui também me pertence

o nortista respondeu

eu sou nato brasileiro

o Brasil é todo meu

o homem precisa andar

para poder desfrutar

do país onde nasceu

C. — O carioca rompeu

nordestino é curioso

além de ter olho grande

é demais ambicioso

chega aqui se amaloca

na terra do carioca

doente tuberculoso

N. — Disse o nortista é porque

nosso Rio de Janeiro

precisa do nordestino

pois é um povo ordeiro

pra quem derrama suor

aqui no Rio é melhor

para se ganhar dinheiro

C. — Mas no Rio de Janeiro

tem operário de sobra

não precisa nordestino

vir aqui fazer manobra

nordestino é atrevido

aqui já é conhecido

por camondonga de obra

N. — Você me diz isso tudo

pra me desclassificar

mas aqui as companhias

preferem mais empregar

os nordestinos que vem

pois carioca não tem

coragem de trabalhar

C. — É porque o carioca

gosta da civilidade

não é defeito ninguém

viver da facilidade

pois ninguém não é cavalo

pra viver criando calo

sem haver necessidade

N. — O carioca só gosta

de viver da malandragem

do jogo e da bebedeira

do vício e da vadiagem

porisso o país da gente

não pode ir para a frente

por causa da pilantragem

C. — O carioca está certo

pensando assim pensa bem

o carioca não gosta

de ser sujeito a ninguém

nem dá valor a operário

que só vive do salário

luta muito e nada tem

N. — Já eu penso diferente

você precisa entender

que nosso mundo é composto

de tudo precisa ter

se não fosse o operário

o rico milionário

como podia viver?

C. — Mas o nortista trabalha

porque é muito uzurario

tem alguém que vem pra qui

mas lá é proprietário

pois devido a ambição

enfrenta até fundação

com os olhos no salário

N. — É porque o nordestino

é um homem acostumado

a só viver do trabalho

não ignora o pesado

não é como o carioca

que só vive da fofoca

da malandragem e do fado

C. — Tinha graça o carioca

se misturar com cimento

como faz o nordestino

que chega ficar cinzento

carioca só procura

um emprego que figura

moral e comportamento

N. — Não é todo carioca

que tem a capacidade

de assumir um emprego

de alta dignidade

precisa de estudar

para assumir um lugar

de responsabilidade

C. — Você aí está certo

o estudo está na frente

porque o mundo ficou

para o mais inteligente

assim diz quem for ativo

o operário é cativo

num país independente

N. — Pois eu gosto do trabalho

e vivo sempre disposto

pois o homem que trabalha

a Jesus dá grande gosto

porque Deus disse a Adão

hás de ganhar o teu pão

com o suor do teu rosto

C. — Então você é Adão

que veio do paraíso

faça lá o que quiser

que de você não preciso

nem vou na sua maloca

porque sou um carioca

que honro o chão onde piso

N. — Nem de você eu preciso

que você é fracassado

pelos traços já se vê

que você é pé rapado

e quem fala deste jeito

só pode ser um sujeito

ignorante atrasado

C. — Disse o carioca eu vivo

com minha alma tristonha

vou embora para onde

o nordestino nem sonha

vou esconder minha cara

para este pau-de-arara

não me matar de vergonha

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