A caçada
[...] Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. [...] Nesse instante erguia a cabeça e fitava os olhos numa sebe de folhas que se elevava a vinte passos de distância, e se agitava imperceptivelmente. Ali, por entre a folhagem, distinguiam-se as ondulações felinas de um dorso negro, brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brilhar na sombra dois raios vítreos e pálidos, que semelhavam os reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol. Era uma onça enorme; de garras apoiadas sobre um grosso ramo de árvore, e pés suspensos no galho superior, encolhia o corpo, preparando o salto gigantesco. [...] Ouviu-se um forte sibilo, que foi acompanhado por um bramido da fera; a pequena seta despedida pelo índio se cravara na orelha, eu ma segunda, açoitando o ar, ia ferir-lhe a mandíbula inferior. O tigre tinha-se voltado ameaçador e terrível, aguçando os dentes uns nos outros, rugindo de fúria e vingança: de dois saltos aproximou-se novamente.Era uma luta de morte a que ia se travar; o índio o sabia, e esperou tranquilamente, como da primeira vez; a inquietação que sentira um momento de que a presa lhe escapasse, desaparecera: estava satisfeito. Assim, estes dois selvagens das matas do Brasil, cada um com as suas armas, cada um com a consciência de sua força e de sua coragem, consideravam-se mutuamente como vítimas que iam ser imoladas. O tigre [...] não se demorou; apenas se achou a coisa de quinze passos do inimigo, retraiu-se com uma força dc elasticidade extraordinária e atirou se como um estilhaço de rocha, cortada pelo raio. [...] Então, o selvagem distendeu-se com a flexibilidade da cascavel ao lançar o bote; fincando os pés e as costas no tronco, arremessou-se e foi cair sobre o ventre da onça, que, subjugada, prostrada de costas, com a cabeça presa ao chão pelo gancho, debatia-se contra o seu vencedor, procurando d ebalde alcançá-lo com as garras. Esta luta durou minutos; o índio, com os pés apoiados fortemente nas pernas da onça, e o corpo inclinado sobre a forquilha, mantinha assim imóvel a fera, que há pouco corria a mata não encontrando obstáculos à sua passagem. [...] (ALENCAR, José de. 0 guarani. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. p. 71-76. (Fragmento).)
1. Gomo Peri e a onça são caracterizados? Que imagem de índio o narrador quer passar ao leitor?
2. TVanscreva no caderno o trecho em que é feita uma comparação entre os dois adversários, o índio e a onça. Explique o significado dessa comparação, considerando as características do romance indianista.
3. Analise de que modo, no contexto do projeto literário do Indianismo, a apresentação de Peri e o desenrolar da cena transcrita tomam-se elementos significativos para a construção da identidade nacional.
Soluções para a tarefa
Olá,
1. Gomo Peri e a onça são caracterizados? Que imagem de índio o narrador quer passar ao leitor?
São caracterizados como dois guerreiros, Peri, um índio na flor da idade, vestia uma túnica de algodão. Enquanto a onça, com sua coloração brilhante o encarava para o duelo eminente.
2. Transcreva no caderno o trecho em que é feita uma comparação entre os dois adversários, o índio e a onça. Explique o significado dessa comparação, considerando as características do romance indianista.
“Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. [...] Nesse instante erguia a cabeça e fitava os olhos numa sebe de folhas que se elevava a vinte passos de distância, e se agitava imperceptivelmente. Ali, por entre a folhagem, distinguiam-se as ondulações felinas de um dorso negro, brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brilhar na sombra dois raios vítreos e pálidos, que semelhavam os reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol.”
A comparação trás ao leitor os elementos presentes no confronto, no caso o Índio e a Onça, e suas característica, ajudando a ambientiza-los como naturais, envoltos em seu meio.
3. Analise de que modo, no contexto do projeto literário do Indianismo, a apresentação de Peri e o desenrolar da cena transcrita tomam-se elementos significativos para a construção da identidade nacional.
Através do simbolismo do natural, da caracterização do Índio brasileiro.
1. Gomo Peri e a onça são caracterizados como dois guerreiros, sendo um índio em idade de força, (descrito no texto como na flor da idade). Esses personagens visitam uma túnica de algodão, e, a onça encara esse guerreiro para o duelo.
Como notamos a onça na tradição indígena:
A partir da observação do eclipse a partir do movimento do sol e da lua. Nesse mito, a onça persegue a lua e o sol, por isso, em dia de Eclipse os indígenas afastavam a onça para que ela não devore a lua.
Por fim, esse mito faz parte dos seus costumes e os códigos desse povo indígena, que definia esse termo como a chegada ao paraíso não precisa ser feita ao passar por uma prova de morte.
Sobre a cultura indígena:
https://brainly.com.br/tarefa/16376368
2. O trecho no caderno, é notado em comparação aos adversários, onde o índio e a onça tem um combate, sendo essa a características básicas do romance.
Como notamos essa perspectiva no trecho?
“Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem.
Essa comparação ressalta os elementos do confronto
Por fim, as ações dos índios tem grande semelhança com as nossas, como as crenças e as referências para nossa língua, que apesar de diferentes, ao longo da formação de nossa cultura mesclaram elementos importantes e utilizados até os dias de hoje.
Mais sobre a cultura dos índios:
https://brainly.com.br/tarefa/2479114
3. Notamos o Indianismo a partir das referências à idealização do indígena, onde vemos uma retratação direta com o Romantismo, onde temos em uma fase, o índio retratado como um herói místico, influenciando na literatura e nas artes plásticas.
Nessa análise, a apresentação de Peri, nos mostra a construção da identidade nacional, tendo o índio como um forte guerreiro.
Quais as características da segunda fase do Romantismo?
Nessa fase, temos o registro das situações vividas pelos índios, rebuscando elementos dos séculos XVII e XVIII.
Mais sobre o Romantismo:
https://brainly.com.br/tarefa/4502806
#SPJ3