Psicologia, perguntado por Claudinha36791, 9 meses atrás

Você já conviveu com um mitomaníaco?

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Respondido por onomedelaejenn81
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O meu primeiro trabalho como engenheiro eletricista foi em uma pequena empresa de montagens elétricas. O dono da empresa era um mitomaníaco.

Ele era uma pessoa sem estudo, que começou a vida como motorista. Não conheço detalhes de sua vida nem como ele conseguiu ganhar dinheiro e montar a empresa.

Alguns dias depois que eu comecei a trabalhar, ele me chamou para acompanhá-lo em um encontro que ele teria com um representante de uma fábrica de transformadores.

Fomos os três almoçar em uma churrascaria em Taguatinga, uma cidade satélite de Brasília. Durante o almoço eles tomaram duas garafas de vinho. Eu, por precaução, tomei meia taça e fiquei observando.

Depois de muita conversa entre eles dois, em que ambos falaram sobre seus planos de negócios com os transformadores, o meu patrão contou uma história fantástica, que me deixou constrangido.

Ele disse que era formado em direito, medicina e engenharia, mas por infelicidade havia sofrido um acidente grave, quando estava esquiando em Las Leñas, na Argentina. Mesmo sendo um exímio esquiador, ele acabou por sofrer uma queda por descuido. Bateu com a cabeça e ficou em coma durante três meses. Quando saiu do coma, ele teve de aprender tudo novamente. Teve de aprender a engatinhar, caminhar, comer com as próprias mãos, a ler e a escrever. Infelizmente, ele não tinha mais tempo para se dedicar a reaprender o direito, a medicina e a engenharia. Ele ainda tinha os diplomas em casa, mas nem sequer os mostrava a ninguém.

Eu ouvi aquela história e fiquei sem saber o que dizer. O representante da fábrica de transformadores me olhava, como que me pedindo ajuda, para esconder o seu constrangimento. Eu olhava de lado e fingia não estar muito interessado na conversa.

Quando cheguei à empresa, contei o que havia escutado para um desenhista que me ajudava nos projetos e que já trabalhava na empresa há muito tempo. Ele me contou que também já tinha ouvido aquela história.

Segundo o desenhista, o dono da empresa tinha um complexo de inferioridade por não ter nenhum diploma de curso superior. Por isso, ele havia inventado aquela história como uma desculpa para sua falta de estudo.

À época eu tinha 25 anos de idade. Tinha acabado de me formar. Não tinha nenhuma experiência em tratar com as pessoas. Perguntei ao desenhista se ele não se sentia incomodado de trabalhar com um mentiroso compulsivo.

Ele me disse que não, pois essa condição é muito comum entre os empresários. Eu teria que me acostumar com essas manias de gente rica. Ele acreditava que essas pessoas bem sucedidas são estimuladas pelo desejo de aparentar riqueza, educação e nobreza. Todos criam histórias fantásticas em torno de suas origens e de sua formação. Por isso, o melhor era não dar importância a elas.

Segui o conselho e passei a encarar esse problema com naturalidade. Depois disso, tive mais um patrão mitômano. Quanto entrei no serviço público, tive alguns chefes que também apresentavam esse traço de caráter.

Minha tendência é acreditar que a teoria do desenhista está correta.

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