Português, perguntado por fofa89la, 7 meses atrás

Vizinhos O vizinho do andar superior – e que nunca cheguei a ver – fazia às vezes ruídos esquisitíssimos, não consegui decifrá-los nas minhas noites acesas, eram ruídos noturnos: coisas esponjosas que se arrastavam pelo chão, pensei em panos úmidos, mas os ruídos passaram por variações, criaram vida e se puseram deslizantes como cobras indo e vindo num ritmo comandado. Muitas cobras – seria um amestrador de circo? Cessaram de repente e começou um barulho trepidante, ágil como o movimento circular de uma máquina de rodinhas, rodinhas de borracha, talvez um carrinho de boneca, embora certa noite as rodas do carrinho tomassem inesperadamente dimensões adultas, ficaram rodas mais responsáveis, difíceis –uma cadeira de paralítico? Os novos inquilinos que chegaram são silenciosos. Tão silenciosos que ouço no silêncio o som de uma pena raspando no papel uma letra caprichada – um velho escritor? Quando cessa o ruído rascante da pena que já deve estar muito usada, começa o ruído delicado de alfinetes caindo no chão, dezenas de alfinetes que depois são recolhidos numa caixinha de papelão. Quando a caixa transborda, são espetados numa almofadinha – um alfaiate? Fiquei adiando a pergunta que ia fazer ao porteiro sobre os meus vizinhos, mas, eles se mudaram, chegaram inquilinos novos e até agora não ouvi nada. Absolutamente nada. Continuo esperando. TELLES, Lygia Fagundes. “24 de outubro”. In: A disciplina do amor. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 82-3. O texto acima integra a chamada “prosa intimista”, uma das principais vertentes da literatura produzida no Brasil nas últimas décadas do século XX e início do século XXI. Trata-se de um período fundamentalmente marcado pelos avanços científicos e tecnológicos, pelo desenvolvimento dos meios de comunicação instantânea e de massa, pelo crescimento desenfreado das grandes cidades, consequentemente, pelo isolamento progressivo das pessoas, de um lado, seduzidas pelas comodidades materiais da tecnologia, pelo conforto doméstico; de outro, reféns da violência, do medo de se exporem ao desconhecido. Tendo isso em vista, responda ao que se pede a seguir. a) Qual o conflito que se estabelece na personagem-protagonista, ou seja, no narrador? b) Qual a relação que pode ser estabelecida entre o conflito da personagem- protagonista e o referido contexto sócio-histórico em que ela se encontra inserida?​

Soluções para a tarefa

Respondido por jonesjonesxd
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O conflito estabelecido pela personagem principal, também narradora, é a angústia das novas relações modernas. Ao passo que a personagem não quer conhecer seus vizinhos, de modo direto, ela,  incansavelmente, busca por informações deles, o que fazem e como são suas vidas em casa. Esse tipo de tratamento pode ser evidenciado no cenário pós-moderno, em que não há construções sólidas de  relações amorosas e afetivas, mas sim uma elevação extrema do individual e só, como é a característica  intimista do conto.

Respondido por Leticia140778
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Prosa intimista: o que é?

O texto de Lígia Fagundes Teles apresenta uma personagem em conflito com as relações modernas, pois ela escuta sons na casa do vizinho, ela não tem interesse em conhecer os vizinhos, mas procura informações que possam sanar suas angustias.

O contexto da narrativa apresenta os relacionamentos da pós modernos, em que não há compromisso, não há uma relação sólida, mas uma extrema necessidade de sanar as necessidades individuais.

Características da prosa intimista

  • Exploração psicológica dos personagens;
  • Conflitos individuais;
  • Fluxo de consciência;
  • Precisão das palavras.

Saiba mais sobre a prosa intimista:

https://brainly.com.br/tarefa/30695979

https://brainly.com.br/tarefa/18672615

Anexos:
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