Português, perguntado por BarbaraFlor9373, 11 meses atrás

[...] Vinham vindo, com o trazer de comitiva.Aí, paravam. A filha – a moça – tinha pegado a cantar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se-dizer das palavras–o nenhum. A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspecto de admiração. Assim com panos e papéis, de diversas cores, uma carapuça em cima dos espantados cabelos, e enfunada em tantas roupas ainda de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas – virundangas: matéria de maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que diferentes, elas se assemelhavam.Sorôco estava dando o braço a elas, uma de cada lado. Em mentira, parecia entrada em igreja, num casório. Era uma tristeza. Parecia enterro. Todos ficavam de parte, a chusma de gente não querendo afirmar as vistas, por causa daqueles trasmodos e despropósitos, de fazer risos, e por conta de Sorôco – para não parecer pouco caso. Ele hoje estava calçado de botinas, e de paletó, com chapéu grande, botara sua roupa melhor, os maltrapos. E estava reportado e atalhado, humildoso. Todos diziam a ele seus respeitos, de dó. Ele espondia: – "Deus vos pague essa despesa..."O que os outros diziam: que Sorôco tinha tido muita paciência. Sendo que não ia sentir falta dessas transtornadas pobrezinhas, era até um alívio. [...]Tomara aquilo acabasse. O trem chegando, a máquina manobrando sozinha para vir pegar o carro. O trem apitou, e passou, se foi, o de sempre. [...]Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desacontecido, e virou, pra ir-s'embora. Estava voltando para casa, como se estivesse indo para longe, fora de conta.Mas parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia perder o de si, parar de ser. Assim num excesso de espírito, fora de sentido. E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo? Num rompido — ele começou a cantar, alterando, forte, mas sozinho para si — e era a cantiga, mesma de desatino, que as duas tanto tinham cantado. Cantava continuando.GUIMARÃES ROSA, J. Sorôco sua mãe, sua filha. Primeiras estórias. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olyimpio, s.d.Guimarães Rosa, escritor inserido na chamada Geração de 1945 do Modernismo Brasileiro, apresenta uma obra de cunho universalista.O texto comprova isso porqueOrigem: Uneb-BA

Soluções para a tarefa

Respondido por waltercaminha
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Olá, Barbara, tudo bem? Vou te ajudar nessa questão:

A alternativa correta para essa questão é a alternativa 04: "enfoca um tema de caráter intimista e ligado à condição humana".

O regionalismo de Guimarães Rosa, que situava as obras do autor em paisagens do sertão brasileiro, traz personagens em conflito com o ambiente e com si mesmas.

Os conflitos das personagens são de caráter intimista, o que lhes confere tanto particularidades regionais - vividas pelas comunidades sertanejas - quando dimensões universais, que podem ser reconhecidas por qualquer leitor.
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