Vestida de preto
[...]
Maria foi o meu primeiro amor. Não havia nada entre nós, está claro, ela como eu nos seus cinco anos apenas, mas não sei que divina melancolia nos tomava, se acaso nos achávamos juntos e
sozinhos. A voz baixava de tom, e principalmente as palavras é que se tornavam mais raras, muito
simples. Uma ternura imensa, firme e reconhecida, não exigindo nenhum gesto. Aquilo, aliás, durava
pouco, porque logo a criançada chegava. Mas tínhamos então uma raiva impensada dos manos e
dos primos, sempre exteriorizada em palavras ou modos de irritação. Amor apenas sensível naquele
instinto de estarmos sós.
E só mais tarde, já pelos nove ou dez anos, é que lhe dei nosso único beijo, foi maravilhoso. Se a
criançada estava toda junta naquela casa sem jardim da Tia Velha, era fatal brincarmos de família,
porque assim Tia Velha evitava correrias e estragos. Brinquedo, aliás, que nos interessava muito,
apesar da idade já avançada para ele. Mas é que na casa de Tia Velha tinha muitos quartos, de forma
que casávamos rápido, só de boca, sem nenhum daqueles cerimoniais de mentira que dantes nos
interessavam tanto, e cada par fugia logo, indo viver no seu quarto. [...] Eu adorava principalmente
era ficar assim sozinho com ela [...].
Maria fez uns gestos, disse algumas palavras. Era o aniversário de alguém, não lembro mais, o
quarto em que estávamos fora convertido em dispensa, cômodas e armários cheinhos de pratos de
doces para o chá que vinha logo. Mas quem
vinha logo. Mas quem se lembrasse de tocar naqueles doces, no geral secos,
fáceis de disfarçar qualquer roubo! Estávamos longe disso. O que nos deliciava era mesmo a grave
solidão.
Nisto os olhos de Maria caíram sobre o travesseiro sem fronha que estava sobre uma cesta de rou-
pa suja a um canto. E a minha esposa teve uma invenção que eu também estava longe de não ter. [...]
-Já é tarde, vamos dormir Maria falou.
Fiquei estarrecido, olhando com uns fabulosos olhos de imploração para o travesseiro quentinho,
mas quem disse que o travesseiro teve piedade de mim. Maria, essa estava simples demais para me
olhar e surpreender os efeitos do convite: olhou em torno e afinal, vasculhando na cesta de roupa suja, tirou de la uma toalha de banho muito quentinha que estendeu sobre o assoalho. Pôs o traves-
seiro no lugar da cabeceira, cerrou as venezianas da janela sobre a tarde, e depois deitou, arranjando
o vestido pra não amassar. [...]
Você não vem dormir também? ela perguntou com fragor, interrompendo o meu silêncio
trágico.
- Já vou - que eu disse - estou conferindo a conta do armazém.
Fui me aproximando incomparavelmente sem vontade, sentei no chão tomando cuidado em se-
quer tocar no vestido, puxa! Também o vestido dela estava completamente assustado, que dificuldade!
Pus a cara no travesseiro sem a menor intenção. Mas os cabelos de Maria, assim era pior, tocavam de
leve no meu nariz, eu podia espirrar, marido não espirra. Senti, pressenti que espirrar seria muito ridi-
culo, havia de ser um espirrão enorme, os outros escutavam lá da sala de visita longinqua, e daí é que
o nosso segredo se desvendava todinho.
Fui afundando o rosto naquela cabeleira e veio a noite, senão os cabelos (mas juro que eram ca-
belos macios) me machucavam os olhos. Depois que não vi nada, ficou fácil continuar enterrando a
cara, a cara toda, a alma, a vida, naqueles cabelos, que maravilha! Até que o meu nariz tocou num
pescocinho roliço. Então fui empurrando os meus lábios, tinha uns bonitos lábios grossos, nem eram
lábios, era beiço, minha boca foi ficando encanudada até que encontrou o pescocinho roliço. Será que
ela dorme de verdade?... Me ajeitei muito sem-cerimônia [...]! E então beijei. Quem falou que este
mundo é ruim! Só recordar... Beijei Maria, rapazes! Eu nem sabia beijar, está claro, só beijava mamãe,
boca fazendo bulha [...]
Maria, só um leve entregar-se, uma levíssima inclinação pra trás me fez sentir que Maria estava
comigo em nosso amor. Nada mais houve. Não, nada mais houve. Durasse aquilo uma noite grande,
nada mais haveria porque é engraçado como a perfeição fixa a gente. O beijo me deixara completa-
mente puro, sem minhas curiosidades nem desejos de mais nada, adeus pecado e adeus escuridão!
Se fizera em meu cérebro uma enorme luz branca, meu ombro bem que doía no chão, mas a luz era
violentamente branca, proibindo pensar, imaginar, agir. Beijando. [...]
1- Que hipóteses foram confirmadas após a leitura do fragmento do conto ??
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kkkķķkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk no seu Kk Já tá descendo a whwbfnd d dmkskkm dnskrijrjr
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