Velho: Oh fortuna triunfante! [...] O maior risco da vida e mais perigoso é amar, que morrer é acabar e amor não tem saída, e pois penado, ainda que amado, vive qualquer amador; que fará o desamado, e sendo desesperado de favor? Moça: Ora, dá-lhe lá favores! Velhice, como te enganas! Velho: Essas palavras ufanas acendem mais os amores. Moça: Bom homem, estais às escuras! Não vos vedes como estais? Velho: Vós me cegais com tristuras, mas vejo as desaventuras que me dais. Moça: Não vedes que sois já morto e andais contra a natura? Velho: Oh flor da mor formosura! Quem vos trouxe a este meu horto? Ai de mim! Porque, logo que vos vi, cegou minha alma, e a vida está tão fora de si que, partindo-vos daqui, é partida. Moça: Já perto sois de morrer. Donde nasce esta sandice que, quanto mais na velhice, amais os velhos viver? E mais querida, quando estais mais de partida, é a vida que deixais? Velho: Tanto sois mais homicida, que, quando amo mais a vida, ma tirais. Porque meu tempo d’agora vai vinte anos do passado; pois os moços namorados a mocidade os escora. Mas um velho, em idade de conselho, de menina namorado... Oh minha alma e meu espelho! Moça: Oh miolo de coelho mal assado! Velho: Quanto for mais avisado quem de amor vive penando, terá menos siso amando, porque é mais namorado. Em conclusão: que amor não quer razão, nem contrato, nem cautela, nem preito, nem condição, mas penar de coração sem querela. Moça: Onde há desses namorados? A terra está livre deles! Olho mau se meteu neles! Namorados de cruzados, isso si!... VICENTE, Gil. O velho da horta.
Nota-se, em "O velho da horta", uma retomada humanista de aspectos referentes às cantigas de amor, como louvor a uma mulher superior e sofrimento em virtude de um amor impossível.
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boas noites e bom feriado
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não sei
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