Português, perguntado por Jukers001, 9 meses atrás

(Unifesp)

[…] Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.

Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um – “ai, nhonhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” –. Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.

Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

Indique a frase que, no contexto do fragmento, ratifica o sentido de “o menino é o pai do homem”, citação inicial do narrador:

A)“[…] fui dos mais malignos do meu tempo […]”

B)“[…] um dia quebrei a cabeça de uma escrava […]”

C)“[…] deitei um punhado de cinza ao tacho […]”

D)“[…] fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado […]”

E)“[…] alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.

Soluções para a tarefa

Respondido por nanoisstudying
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Resposta:

A

Explicação:

●●Pelo meu campo de visão, percebi que a expressão "o menino é o pai do homem" significa que as atitudes que tínhamos quando crianças refletem em nossa versão adulta. Também pode ter ligação ao pai do eu lírico, que não contestava certas ações cruéis.

Também podemos perceber que os itens B,C,D e E são todos explicando fatos acontecidos na infância pelo eu lírico jovem, já no item A, é um fato acontecido na infância (ser maligno) explicado pelo eu lírico adulto (no caso, morto eu lírico); assim, a A é a que mais se encaixa porque mostra uma relação entre o homem (eu lírico adulto) e o menino(fato feito pelo eu lírico jovem no passado)

Por favor, fale o gabarito e me responda se a explicação foi coerente.


Jukers001: Mais obrigado por tentar me ajudar.
nanoisstudying: eu ia falar e agorinha
nanoisstudying: entendi porque é
nanoisstudying: no contexto do trecho
nanoisstudying: ele falou que do futuro dele
nanoisstudying: "não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida..."
nanoisstudying: a frase "o menino é o pai do homem" tá afirmando que na infância a gente faz decisões que muitas vezes decidimos ou não levar pra vida adulta
nanoisstudying: e é disso que ele se refere nesse parágrafo
nanoisstudying: por isso a letra e
nanoisstudying: espero que tenha entendido
Respondido por larissamagrani
2

A expressão "O menino é o pai do homem" quer dizer que o homem começa a ser moldado já pelas ações do menino. O menino já "define" em parte quem será, no futuro, o homem., completando-se ao trecho "[…] fui dos mais malignos do meu tempo […]” (A).

Machado de Assis foi poeta e contista brasileiro nascido no século XIX e representante do Romantismo.

Em 1855, inicia a sua trajetória à literatura brasileira, com a publicação o seu poema chamado "Ela".

A partir daí, começa a trabalhar na edição dos jornais locais e é nomeado sócio do Conservatório Dramático Brasileiro e da Arcádia Fluminense.

Teve, como um dos seus pupilos, o poeta Castro Alves, que almejava ingressar no mundo literário e fora incentivado por José de Alencar e, em 1888, foi nomeado oficial da Ordem da Rosa, pelo Império.

Seus contos mais célebres são: Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Quincas Borba.

Quanto aos poemas: Poesias completas, Desencantos e Ela.

Saiba mais em: brainly.com.br/tarefa/12485372

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