(Unesp-SP) A questão toma por base um fragmento de uma crônica do escritor realista brasileiro Machado de Assis (1839-1908).
Crônica (15.03.1877)
Mais dia menos dia, demito-me deste lugar. Um historiador de quinzena, que passa os dias no fundo de um gabinete escuro e solitário, que não vai às touradas, às câmaras, à rua do Ouvidor, um historiador assim é um puro contador de histórias.
E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Por que essa diferença? Simples, leitor, nada mais simples. O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo, que nunca leu Tito Lívio, e entende que contar o que se passou é só fantasiar.
O certo é que se eu quiser dar uma descrição verídica da tourada de domingo passado, não poderei, porque não a vi. [...]
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. História de Quinze Dias. In: Crônicas.
O quiasmo é um procedimento estilístico que consiste na construção de frases ou de expressões segundo um princípio de retomada que pode ser representado como abba, ou seja, os elementos retomados se repetem em ordem inversa, como neste exemplar de Olavo Bilac: “Vinhas fatigada e triste, e triste e fatigado eu vinha”.
a) Demonstre que o segundo período do segundo parágrafo do texto de Machado de Assis foi escrito de acordo com o princípio do quiasmo.
b) Explique o que quer significar o cronista com esse período aparentemente contraditório.
Soluções para a tarefa
Resposta:
a) Os elementos que formam o quiasmo, no período em questão, são os que se encontram destacados:"Um contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias."Portanto, tais elementos podem ser assim esquematizados: (a) "contador de histórias" (b) "historiador"(b) "historiador" (a) "contador de histórias".
b) No trecho de Machado de Assis, o "contador de histórias" relata o que não viu (parágrafo 1), ou seja, oque ele faz "é só fantasiar" (parágrafo 2). Por outro lado, o historiador, embora também conte histórias,só as conta se verídicas, como seria a descrição da"tourada de domingo passado", caso fosse feita por quem a tivesse visto (último parágrafo).