uma narrativa sobre racismo
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Compreender o racismo, a começar pela aceitação de que o racismo engendra a vida social, é comprometer-se com uma linha de racionalidade subversiva, que duvida da aparente normalidade das relações interpessoais em quaisquer âmbitos, que coloca em xeque o que está estabelecido como ordem natural das coisas. A compreensão do racismo se configura como um divisor de águas dilacerador na psique: doravante, a vida será A. R. e D. R., ou seja, Antes do Racismo e Depois do Racismo. Antes do Racismo, vemos tudo por um prisma de igualdade, tendo sempre como referência um primado de ordem aparentemente apenas cristão, mas que está em todas as religiões – e perversamente: somos todos iguais. Depois do Racismo, vemos tudo por um prisma de diferença, tendo como referência um primado de ordem política, que nos força a enxergar o próprio nariz – e revoltosamente: somos todos desiguais. A compreensão do racismo nos lança num mundo sem Deus, desencantado.
O racismo, que realmente impõe a produtividade científica do conceito de raça no século 19, como tem argumentado Silvio Almeida (Racismo estrutural, 2018), configura-se como um monstruoso problema hermenêutico, cuja operacionalização é fundamental para que possamos sonhar com a sua erradicação algum dia. As compreensões, o que se processa na esfera hermenêutica, são movimentos da vida ativa, em primeiro lugar, segundo a perspectiva de Hannah Arendt (A condição humana, 1958), e são ações interessadas pelo simples fato de que, como postula Pierre Bourdieu (Razões práticas, 1994), toda ação é interessada, até mesmo a ação dita desinteressada é interessada – no desinteresse, óbvio.
Logo, é preciso compreender, interpretar, o racismo como tal para que possamos enfrentá-lo devidamente, nos vários níveis (institucional, científico, político, econômico, cultural, midiático etc.), e essa compreensão encontra obstáculo, no Brasil, de três dimensões: religiosa, republicana, cultural. Essas dimensões mascaram, cada uma a sua maneira, o racismo, de modo a forçar uma modulação da sociedade brasileira como democracia racial, sim, por mais que dos anos 1960 para cá, como forma até de fazer média com o Movimento Social Negro, tenha-se rotinizado uma birra, não exatamente uma contestação categórica, com Gilberto Freyre, suposto teórico da “democracia racial” – não chega a tanto, de fato. Sem dúvida, o preceito de democracia racial interessa a religiosos, republicanos e culturalistas vulgares como senha cordial num jogo que é de dominação, uma luta pelo poder.
A luta contra o racismo no Brasil nos coloca, inevitavelmente, em confronto com todos aqueles e aquelas que negam o racismo como forma de evitar desconfortos diversos e, assim, conseguirem progressão na ordem natural injusta das coisas. Assumir que a sociedade brasileira se estrutura e funciona de modo racista significa romper com um pacto de silêncio em torno da desigualdade que vem a ser, no fundo, o grande segredo de estado no Brasil.