uma crônica sobre um almoço em família
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Resposta:
São dez horas da manhã, diz o relógio em tin-dlen pausadamente.
Cheia de afazeres, toda exausta, a mãe corre a arrumar os últimos cômodos da cama, atenciosa a cada detalhe, a cada poeira adormecida sobre os móveis semi-novos que ganhara da nora no ano passado, no dia em que completara cinquenta e nove anos. E não podia perder tempo, era um pé na arrumação e um pé no relógio. Havia de terminar de arrumar a casa antes do meio-dia, era tão importante quanto completar a gestação de um filho que cresce oval na barriga, receberia pois todos os seus filhos e netos para o almoço-de-família. E, de tão extrema importância era esse almoço para ela, que, quando terminasse a arrumação, poria o feijão, que espera de molho, para cozinhar e a água do arroz para ferver. Cortaria cenouras e batatas, daria sabor à massa insossa do macarrão. Desfiaria montanhas de galinha, desde cedo mortas e levadas ao fogo, cozidas em inexpressivas bolhas de ar, todas sem alma — graças a Deus! — todas sem alma, pois senão se sentiriam no próprio inferno.
Terminou de adicionar os últimos temperos. Desligou o fogo. Olhou o relógio, sentiu o coração sair pela boca: “Meu Deus, mas já são onze e meia!”. Apressou-se em se aprontar. Nesse almoço esqueceria feliz do abandono que é ela, se pentearia divina, poria o seu melhor vestido, usaria o colar e os brincos pesados de sua falecida mãe. Nesse almoço esqueceria todos os problemas, somente pensaria em coisas boas, como está sendo agora em frente ao espelho, imóvel e perplexa, trazendo à memória os traços de sua mãezinha, traços súbitos e rápidos, outros difíceis e longos como a cor dos olhos e o estado natural da boca.
A tristeza e a felicidade se misturam infinitamente na imensa vontade de viver, não viver no sentido de estar vivo, viver é ainda maior, é o espanto de descobrir tão fatalmente que se é o que em toda vida nunca se conseguiu ser, é não usar de força nem delicadeza, é por um segundo ser apenas coisa livre, como pontadas do amor no coração. O que em mim é um contínuo mistério.
A campainha toca. Os últimos retoques são dados.
Ela abre a porta. E todos gritam num só grito:
— Feliz aniversário!
E entram a cantar: “Parabéns pra você! Parabéns pra você!…”. Ela então se emociona e lembra divertida, sem raiva de si mesma:
— Esqueci meu aniversário.
Explicação:
Espero ter ajudado!