Português, perguntado por alessandrosilva89645, 3 meses atrás

Um texto sobre o último dia de aula

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Respondido por ms8622137
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Resposta:

Último dia de aula.

Marcelo acordou como em todos os outros dias normais de sua vida, mas com apenas uma única e poderosa diferença. Era seu último dia de aula. Espreguiçou-se e sentindo o gelado do chão invadir seu corpo caminhou até o banheiro, onde escanhoou sua barba deixando o intocável cavanhaque.

Quinta feira era um dia geralmente feliz para Marcelo, pois em uma rotina frenética de aulas possuindo dias com doze, treze até catorze aulas, quinta era um dia ameno em uma semana escravagista. Como tudo na vida havia um porém nisso tudo, na quinta feira Marcelo possuía apenas duas aulas no período da tarde mas eram estas na considerada pior sala da escola. Enquanto nosso professor tomava banho e vestia suas roupas lembrava-se dos últimos momentos naquela sala.

No princípio descaso total para sua pessoa. Os alunos não prestavam atenção às aulas, conversavam o tempo todo e não em tom baixo, mas aos berros. Ele pedia silêncio, pedia por favor, tentava conversar de um por um, nada adiantava. Como segundo passo, passou para uma atitude mais enérgica: gritou, mandou que eles calassem a boca e... nada. A única coisa a mudar foi que eles riam enquanto o professor se esgoelava. Triste, buscou ajuda falou com psicopedagogas, quase entrou em depressão, pois graças a essas profissionais descobriu que as aulas eram uma bagunça, tudo porque sua prática era atrasada. Uma delas esfregou em sua cara um ofensivo bordão: prática adequada gera comportamento adequado, prática inadequada gera comportamento inadequado. Nosso bravo herói concluiu que o problema era com ele, aos trinta anos de idade e com 7 anos de docência não tinha acompanhado as mudanças do mundo e por isso os alunos não o respeitavam. Para eles, Marcelo era um dinossauro, um homem atrasado e tedioso que falava de pronomes, crase, objeto direto e outras coisas que não apresentavam utilidade prática em suas vidas juvenis. Diante dessa verdade ele debruçou-se sobre os livros, leu os novos pensadores da educação e entrou no segundo bimestre com energia para aplicar práticas mais inovadoras. A gramática saia do texto e voltava para este. HQs, jornais, revistas, blogs, facebook, SMS e outras inovações tecnológicas faziam parte agora de seus planos de aula. Situações problemas que imitavam possíveis desafios com os quais seus alunos poderiam se deparar na vida eram o carro chefe de suas aulas. Resultado: a desordem na sala só aumentou. Os momentos de debates ou de reflexão por parte dos alunos em cima das situações problemas eram propícios a maior bagunça, sem contar aqueles que se recusavam categoricamente a fazer ou ainda aqueles que não davam a mínima atenção.

O terceiro bimestre foi pior ainda. Já na volta às aulas Marcelo não tinha mais o mínimo controle sobre a sala. Começou a sentir-se envergonhado quando seus colegas debochavam de como a sala era barulhenta em sua aula. Riam dizendo que Marcelo era paciente demais, que os alunos percebiam isso e abusavam. Sentia-se um aborto, pois como aquilo que sempre fora uma qualidade de sua pessoa tornara-se um defeito? Estaria ele ou os alunos errados?

Perdido nessas lembranças viu-se no shopping de sua cidade. Comprou um enorme sorvete, açúcar para ele era felicidade mercantilizada. Tomou pacientemente sentado sozinho em um banco enquanto observava aquela juventude indo e vindo, rindo, falando, gesticulando como se fossem as pessoas mais importantes do mundo. Eles eram donos de um mundo que seguira adiante e Marcelo ficara pra trás.

Quando chegou na escola, caminhou lentamente para a fatídica sala. Aquilo que presenciava não poderia ser qualificado como humano, antes uma turba de animais, talvez uma tribo de unos fosse menos barulhenta que aquilo.

Com sua paciência impar ele pediu silêncio, uma, duas, três vezes. Decidiu virar-se para lousa e de costas para sala abriu seu grosso e pesado livro de gramática.

Todos os outros professores assustaram-se, de repente a sala ficara em um silêncio atípico. Em um silêncio que poderia ser comparado ao de um sepulcro. Quando o inspetor de alunos abriu a porta da sala de aula para ver o que de tão estranho ocorria encontrou quarenta alunos boquiabertos, nenhum ruído era audível naquele lugar e no chão jazia um professor.

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