Um peixe
Virou a capanga de cabeça para baixo, e os peixes espalharam-se pela pia. Ele ficou olhando, e foi então que notou que a traíra ainda estava viva. Era o maior de todos ali, mas não chegava a ser grande [...]. Ela estava mexendo, suas guelras mexiam devagar, quando todos os outros peixes já estavam mortos; como podia durar tanto tempo assim fora d’água?
Teve então uma ideia: abrir a torneira, para ver o que acontecia. Tirou os outros peixes para fora ― lambaris, chorões e piaus ―, dentro do tanque deixou só a traíra. E então abriu; a água espalhou-se, e quando cobriu a traíra, ela deu uma rabanada e disparou, ele levou o maior susto ― estava muito mais viva do que pensara, muito mais viva. Ele riu, ficou alegre e divertido, olhando a traíra, que agora tinha parado num canto, o rabo oscilando de leve, a água continuando a jorrar da torneira. Quando o tanque encheu, ele fechou-a.
― E agora? ― falou para o peixe. ― Quê que eu faço com você?...
Enfiou o dedo na água, a traíra deu uma corrida assustada, ele tirou o dedo depressa.
― Você tá com fome?... E as minhocas que você me roubou no rio?... Eu sei que era você; devagarzinho, sem a gente sentir... Agora está aí, né?... Tá vendo o resultado?...
O peixe, quieto num canto, parecia escutar.
Podia dar alguma coisa para ele comer. Talvez pão. Foi olhar na lata: tinha acabado. Que mais? Se a mãe estivesse em casa, ela teria dado uma ideia; era boa para dar ideias. Mas ele estava sozinho [...]. O jeito era ir comprar um pão na padaria. [...]
VILELA, L. Um peixe. In: Tarde da noite. São Paulo: Editora Ática, 1988.
Glossário:
capanga: bolsa pequena.
guelras: aparelho respiratório dos peixes.
As falas da personagem é exemplo de
A
uma linguagem típica de pessoas sem escolaridade.
B
um registro formal, prestigiado pelo uso da norma-padrão.
C
um registro estigmatizado, pelo uso de gírias de pescadores.
D
um registro comumente utilizado em conversas espontâneas.
E
uma linguagem que emprega expressões que caíram em desuso.
Soluções para a tarefa
Resposta:
c
Explicação:
um registro estigmatizado,pelo uso de gírias de pescadores
As falas da personagem é exemplo de:
D. um registro comumente utilizado em conversas espontâneas.
Explicação:
Nas falas do pescador, notamos o uso de expressões coloquiais, como "quê", "tá", "a gente", "né?", o que denota o emprego da linguagem informal.
Não são termos que possam identificar sua profissão (pescador).
Trata-se apenas do registro de linguagem informal, usada em conversas e situações de espontaneidade.
A linguagem coloquial/informal/popular é aquela utilizada em conversas com parentes e amigos e em situações informais, que não exigem o seguimento à risca das normas gramaticais.
Por isso mesmo não é um registro prestigiado e as pessoas que utilizam essa linguagem são estigmatizadas como de baixa escolaridade.
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