Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si:
luz balão.
Leia o trecho "tecendo a manhã" e depois elabore um comentário de no mínimo 5 linhas sobre o que você entendeu:
Soluções para a tarefa
Resposta:
ESPERO QUE AJUDE!
De posse dos dizeres expressos na criação em pauta, torna-se relevante afirmarmos acerca das duas vertentes que nortearam a poesia do autor em questão – João Cabral de Melo Neto. Uma delas, objeto de nossa discussão, diz respeito à fase demarcada pelo que denominamos de metapoética, cujos propósitos se firmaram num eu-lírico que se via realizando experimentações linguísticas. Trocando em outras palavras, trata-se de um metapoema, isto é, a poesia falando da própria poesia. Nesse ínterim, vale afirmar que, distanciando-se da subjetividade tão apregoada pelos artistas da era romântica, o poeta se manteve lúcido e racional, mostrando-se não como um sonhador, mas como um autêntico observador, um autêntico crítico da realidade circundante. Nesse sentido, tomando como exemplo os próprios versos da poesia em questão, citemos alguns deles:
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos [...]
Neles, o autor fala exatamente sobre a questão da escrita em si, pois, diante da tarefa de construirmos um texto, temos de ter consciência de que ele estabelece um diálogo com outros, levando em conta nosso conhecimento de mundo, fruto de nossas experiências, de nossa bagagem cultural propriamente dita. Assim também ocorre com a poesia, haja vista que esse dialogar se refere aos posicionamentos ideológicos manifestados por meio do discurso que produz.