Um ferrageiro de Carmona
que me informava de um balcão:
Aquilo? É de ferro fundido,
foi a fôrma que fez, não a mão.
Só trabalho em ferro forjado
que é quando se trabalha ferro;
então, corpo a corpo com ele,
domo-o, dobro-o, até onde quero.
O ferro fundido é sem luta,
é só derramá-lo na fôrma.
Não há nele a queda de braço
e o cara a cara de uma forja.
Existe grande diferença
do ferro forjado ao fundido;
é uma distância tão enorme
que não pode medir-se a gritos.
Conhece a Giralda em Sevilha?
De certo subiu lá em cima.
Reparou nas flores de ferro
dos quatro jarros das esquinas?
Pois aquilo é ferro forjado.
Flores criadas numa outra língua.
Nada têm das flores de fôrma
moldadas pelas das campinas.
Dou-lhe aqui humilde receita,
ao senhor que dizem ser poeta:
o ferro não deve fundir-se
nem deve a voz ter diarréia.
Forjar: domar o ferro à força,
não até uma flor já sabida,
mas ao que pode até ser flor
se flor parece a quem o diga.
(0 FERRAGEIRO DE C A R M O N A In : Crime na Calle Relator/Sevilha Andando, de J o ã o C a b ra l d e M e lo N e to .
A lfa g u a ra , R io de J a n e iro ; © b y h e rd e iro s de J o ã o C a b ra l de M e lo N e to
)
1. Ferrageiro é um negociante de ferragens ou de ferro que, em seu ofício, utiliza a forja, um conjunto de fornalha. No poema, ele dialoga com o poeta diante de um balcão.
a) Quando narra sua atividade, que diferença o ferrageiro estabelece entre trabalhar o ferro fundido e o forjado?
b) Como o ferrageiro explica o trabalho feito com as flores da Giralda?
2. Para o crítico literário João Alexandre Barbosa, “a narração de uma atividade serve ao poeta para extração de ensinamento e lição para a poesia”.
a) Do ponto de vista do ferrageiro, quais são as duas maneiras de se trabalhar com a linguagem?
b) Que conselho ele dá ao poeta?
c) Explique a metáfora dos versos seguintes:
3. Na composição do poema, o autor articula forma e conteúdo. Observe as interrogações empregadas. Que efeito de sentido se obtém com esse recurso linguístico?
4. Com base na metáfora, explique a função social do poeta.
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1. a) O ferrageiro diz que o ferro fundido não é ferro propriamente dito, pois é mole e pode moldar-se a tudo. Já o ferro forjado requer uma dominação, um trabalho árduo que o ferrageiro considera mais autêntico.
b) As flores de Giralda são um trabalho em ferro forjado, uma criação original, feitas em "outra língua".
2. a) Trabalhá-la como ferro fundido, que é adaptá-la perfeitamente aos moldes, torná-la precisa, ou trabalhá-la como ferro forjado, moldando-a à sugestão do que possa resultar.
b) O ferrageiro aconselha o poeta a trabalhar as palavras como o ferro forjado, "domar" as palavras à força para que se configurem não em literalidade, mas em poesia, em metáfora, associações, algo novo.
c) ???
3. Os pontos de interrogação marcam perguntas retóricas, para que o narrador continue sem relato. As interrogações sempre indicam referências.
4. A função social do poeta é despertar a linguagem para novas associações, novas fronteiras de possibilidade, deslocá-la da mera descrição.
b) As flores de Giralda são um trabalho em ferro forjado, uma criação original, feitas em "outra língua".
2. a) Trabalhá-la como ferro fundido, que é adaptá-la perfeitamente aos moldes, torná-la precisa, ou trabalhá-la como ferro forjado, moldando-a à sugestão do que possa resultar.
b) O ferrageiro aconselha o poeta a trabalhar as palavras como o ferro forjado, "domar" as palavras à força para que se configurem não em literalidade, mas em poesia, em metáfora, associações, algo novo.
c) ???
3. Os pontos de interrogação marcam perguntas retóricas, para que o narrador continue sem relato. As interrogações sempre indicam referências.
4. A função social do poeta é despertar a linguagem para novas associações, novas fronteiras de possibilidade, deslocá-la da mera descrição.
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