Um amigo meu, nos Estados Unidos, comprou uma casa velha de mais de um século, conservada, como muitas por lá existem. Muitas coisas a serem consertadas. Tudo teria que ser pintado de novo. Antes de pintar com as cores novas ele achou melhor raspar das paredes a cor velha, um azul sujo e desbotado. Raspado o azul, debaixo dele surgiu uma cor rosa mais velha ainda que o azul. Raspou-a também. Aí apareceu o creme, e depois do creme o branco... Cada morador havia coberto a cor anterior com uma cor nova. E assim ele foi indo, pacientemente, camada após camada. Queria chegar à cor original, que apareceria depois que todas as camadas de tinta fossem raspadas. Finalmente o trabalho terminou. E o que encontrou foi surpresa inesperada que o encheu de alegria. Mais bonito que qualquer tinta: madeira linda, o maravilhoso pinho-de-riga, com nervuras formando sinuosos arabescos cor castanha contra um fundo marfim. Parábola: somos aquela casa. Ao nascer somos pinho-de-riga puro. Mas logo começam as demãos de tinta. Cada um pinta sobre nós a cor de sua preferência. Todos são pintores: pais, avós, professores, padres, pastores. Até que o nosso corpo desaparece. Claro, não é com tinta e pincel que eles nos pintam. O pincel é a fala. A tinta são as palavras. Falam, as palavras grudam no corpo, entram na carne. Ao final o nosso corpo está coberto de tatuagens da cabeça aos pés. Educados. Quem somos? “O intervalo entre o nosso desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de nós“, responde Álvaro de Campos
Pergunta: reflita sobre o que o autor quis dizer com "somos aquela casa" escreva sua reflexão
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O autor quis dizer que assim como a casa quando passada de inquilino a inquilino fora mudada, nós também sofremos mudanças no decorrer da nossa vida por meio das pessoas que nos rodeiam, as vezes tomamos decisões para agradar essas pessoas, por mais que não seja o que nos agrada. Porém, no fundo, no fundo, somos nós mesmos, mudamos o meio externo por influências, mas não mudamos nossos ancestrais, nossas raízes.
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O autor usou tal expressão pra nos comparar a tal madeira, partindo do pressuposto que somos puros completamente, e que o mundo e nossas vivências vão nos moldando, vão escondendo a nossa verdadeira característica e nos revestindo de armaduras adquiridas de cada experiência.
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