(UFRJ)
O que há de errado com a felicidade?
A pergunta do título pode deixar muitos leitores desconcer tados. E foi feita mesmo para desconcertar – estimular que se faça uma pausa para pensar. Uma pausa em quê? Em nossa busca pela felicidade – que, como muitos leitores provavelmente concordarão, temos em mente na maior parte do tempo, preenche a maior parte de nossas vidas, não pode nem vai abrandar a marcha, muito menos parar… pelo menos não por mais que um instante (fugaz, sempre fugaz).
Por que é provável que essa pergunta desconcerte? Porque indagar “o que há de errado com a felicidade?” é como perguntar o que há de quente no gelo ou de malcheiroso numa rosa. Sendo o gelo incompatível com o calor, e a rosa com o mau cheiro, tais perguntas presumem a viabilidade de uma coexistência inconcebível (onde há calor, não pode haver gelo).
De fato, como poderia haver algo de errado com a felicidade? “Felicidade” não seria sinônimo de ausência de erro? Da própria impossibi-
lidade de sua presença? Da impossibilidade de todo e qualquer erro?! […]
Nossas vidas, quer o saibamos ou não e quer o saudemos ou lamentemos, são obras de arte. Para viver como exige a arte da vida, devemos, tal como qualquer outro tipo de artista, estabelecer desafios que são (pelo menos no momento em que estabelecidos) difíceis de confrontar diretamente; devemos escolher alvos que estão (ao menos no momento da escolha) muito além de nosso alcance, e padrões de excelência que, de modo perturbador, parecem permanecer teimosamente muito acima de nossa capacidade (pelo menos a já atingida) de harmonizar com o que quer que estejamos ou possamos estar fazendo. Precisamos tentar o impossível. E, sem o apoio de um prognóstico favorável fidedigno (que dirá da certeza), só podemos esperar que, com longo e penoso esforço, sejamos capazes de algum dia alcançar esses padrões e atingir esses alvos, e assim mostrar que estamos à altura do desafio.
A incerteza é o hábitat natural da vida humana – ainda que a esperança de escapar da incerteza seja o motor das atividades humanas.
Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental, mesmo que apenas tacitamente presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas
da felicidade. É por isso que a felicidade “genuína, adequada e total” sempre parece residir em algum lugar à frente: tal como o horizonte, que recua quando se tenta chegar mais perto dele.
BAUMAN, Zygmunt. “O que há de errado com a felicidade?” In: A Arte da Vida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. (adaptado)
No primeiro e no terceiro parágrafos, observa-se, em relação aos demais, uma mudança de pessoa discursiva no tratamento do conteúdo, ocorrendo o uso da
a) primeira pessoa no primeiro parágrafo e da terceira pessoa nos outros.
b) segunda pessoa no primeiro parágrafo e da terceira pessoa nos outros.
c) terceira pessoa no primeiro parágrafo e da primeira pessoa nos outros.
d) primeira pessoa no primeiro parágrafo e da segunda pessoa nos outros.
e) terceira pessoa no primeiro parágrafo e da segunda pessoa nos outros.
Soluções para a tarefa
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Resposta: letra A
Explicação:
O efeito dessa mudança no plano da enunciação é a explicitação de que o autor se inclui no processo que ele ressalta.
Os elementos gramaticais que marcam essa mudança são os seguintes: pronome possessivo (“nossa”) e verbos na 1ª pessoa do plural (“saibamos, saudemos, lamentemos, devemos, precisamos, estamos, devemos, podemos”).
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