(UFMT, 2013, adaptada)
Os livros como paixão
Ninguém compreende minha paixão por livros, suspirava ele. E era uma grande paixão: o pequeno apartamento em que vivia estava literalmente atulhado de romances, livros de contos, obras de autoajuda, textos médicos etc. Não que ele os lesse. Ler era secundário. O importante era possuir os livros, saber que toda aquela riqueza cultural do passado estava ali, ao alcance de sua mão. A mão que acariciava as lombadas, que folheava cuidadosamente as páginas.
O problema é que os livros custam dinheiro. E dinheiro lhe faltava. Aos 85 anos, vivendo de uma modesta aposentadoria, o ancião não podia dispender muito em livrarias. Por isso roubava. “Roubo”, aliás, era uma expressão que lhe desagradava; preferia falar em algo como “redistribuição da riqueza intelectual”. Mas o eufemismo não o ajudava muito. Nem as mãos trêmulas, nem a lentidão.
Cada vez que ia roubar um livro, deixava cair uma pilha inteira no chão. Mais do que isso, não sabia disfarçar: os bibliotecários sabiam quando ele estava roubando. Pediam-lhe as obras furtadas de volta e, justiça seja feita, ele nunca se negou a fazê-lo. Era parte de um jogo, um jogo que ele adorava, e cujas regras sempre respeitou.
Infelizmente, porém, os bibliotecários cansaram deste jogo. E um acordo entre eles resultou em uma decisão: o homem agora está proibido de entrar na biblioteca. Não adianta ele dizer que quer apenas consultar os jornais. Não adianta também dispor-se a ser revistado. A paciência dos responsáveis simplesmente terminou.
Resta-lhe refugiar-se em seu sonho. E que sonho é este? Ele sonha que um dia vai ganhar muito dinheiro – num cassino ou numa loteria. E aí comprará uma antiga e grande biblioteca – que será só dele. Ninguém mais poderá frequentá-la. Só ele, ali irá todos os dias.
Belo sonho, consolador sonho. O único inimigo desse sonho é o tempo. Com 85 anos, quanto mais ele poderá esperar pelo cassino ou pela loteria? O tempo é um implacável ladrão. E não tem nenhuma paixão pelos livros.
(SCLIAR, M. In SARMENTO, L. L. Oficina de redação. São Paulo: Moderna, 2006.)
Do trecho O tempo é um implacável ladrão. E não tem nenhuma paixão pelos livros, pode-se entender que a ação do tempo é:
a)branda.
b)condescendente.
c)vulgar.
d)inexorável.
e)evitável.
Soluções para a tarefa
Respondido por
17
Pode-se dizer segundo o texto que a ação do tempo é inexorável, que não se corrompe diante de insistentes, pedidos e até mesmo súplicas.
deslaine:
correta!
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