(UEM - adaptada) Leia o texto. Já há algum tempo, dei-me conta de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões por verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei sobre princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito duvidoso e incerto; de modo que era preciso tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões que recebera até então em minha crença e começar tudo novamente desde os fundamentos, se eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de constante nas ciências. DESCARTES, R. Meditações sobre a filosofia primeira. In: MARÇAL, J. Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEED, 2009, p. 153 (Adaptado). Analise as assertivas a seguir. I. A verdadeira ciência ou conhecimento verdadeiro deve refutar toda e qualquer crença ou religião. II. O início do processo filosófico de descoberta da verdade começa com a instauração da dúvida. III. O espírito de investigação filosófica busca alicerces firmes, que não foram dados pelo modo como se adquiria o conhecimento até então. IV. A dúvida sobre o conhecimento que se tem decorre das opiniões e dos saberes mal apreendidos na escola. V. Os alicerces firmes do conhecimento devem estar além das opiniões das autoridades acadêmicas. É correto apenas o que se afirma em Escolha uma: a. II, III e V. b. II, IV e V. c. I, II e III. d. I, III e V. e. I, II e IV.
Soluções para a tarefa
Opções corretas são: II, III, V (letra a).
Descartes ficou conhecido por ter adotado o método da dúvida hiperbólica ou sistemática. O que significa isso? Que, diante de tudo o que ele considerava como conhecimento e que ele havia acumulado até então (através dos sentidos, da educação formal, do ambiente familiar etc.), Descartes adotou um posicionamento de duvidar de absolutamente tudo, não ter nada como garantido.
Não era uma dúvida motivada por uma análise individual de cada verdade/conhecimento e nem de uma avaliação sobre aprendizagem na época (e por isso IV está errada), era uma dúvida exagerada (hiperbólica) de propósito, que não deixava nada intocado, para que se pudesse partir do zero (ou quase isso). Assim que Descartes via o início ideal para o processo de obtenção de conhecimento através da Filosofia (sendo a II correta).
Esse espírito de investigação também deveria ir além da dúvida, buscando conhecimentos que seriam realmente certos, dos quais não pudesse haver dúvida. Assim, a Filosofia poderia partir de alicerces não encontrados até então, firmes o suficiente para que pudéssemos ter certeza de que os conhecimentos obtidos a partir deles seriam verdadeiros.
Assim que Descartes chegou a sua famosa frase “Penso, logo existo”. A ideia era que, justamente por estar duvidando de seus conhecimentos, ele poderia ter certeza de que ao menos ele era capaz de duvidar. E como ele considerava o ato de duvidar como um ato de pensamento, chegou a essa conclusão de que ele existia pelo menos enquanto algo pensante (nesse momento de seu texto, a existência do corpo ainda não havia escapado da dúvida radical).
A partir dessa primeira certeza, ele poderia ir alcançando e descobrindo outras, e assim estabelecer um solo seguro para o conhecimento, não importando o que se dizia nas universidades e escolas, pelas autoridades acadêmicas. E nem pelas autoridades religiosas, embora a Ciência ou a Filosofia não tivessem como objetivo ou dever refutar religiões, mas sim obter conhecimento verdadeiro, não importa qual fosse.