Trimálquio estava ainda a narrar essas extravagâncias, quando foi servido um enorme porco, dentro de uma travessa que cobria grande parte da mesa. Pusemo-nos todos a louvar a rapidez do cozinheiro, e alguém jurou que qualquer outro levaria muito mais tempo para preparar uma simples galinha. O que nos deixou ainda mais surpresos foi que o porco parecia muito maior que o javali servido momentos antes. Trimálquio, porém, depois de examiná-lo com crescente interesse, exclamou:
- Mas que vejo! Este porco não foi estripado! Não, é claro que não foi! Chamem-no! Chamem o cozinheiro!
O pobre-diabo aproximou-se da mesa e confessou, tremendo, que havia esquecido.
- Como esqueceu! – gritou, furioso, Trimálquio. – Dir-se-ia, ouvindo-o, que não foi nada, que apenas esqueceu a pimenta e o cominho! Dispam-no!
Num instante, o culpado foi despojado de suas vestes e colocado entre dois carrascos. Seu rosto, triste e digno de pena, enterneceu os comensais, e alguém se apressou a implorar misericórdia para ele:
- Não é a primeira vez – dizia – que coisas assim acontecem. Perdoa-o, nós te pedimos, por esta vez. Se algum dia ele reincidir, nenhum de nós intercederá em seu favor.
Não pude deixar de encarar com severidade bastante maior tamanha negligência, e, inclinando-me a Agamêmnon, disse-lhe ao ouvido:
- Esse escravo deve ser um grande patife. Esquecer de estripar um porco! Pelos deuses, eu não perdoaria nem mesmo se esquecesse de estripar um peixe. [...]”
PETRÔNIO. Satírico. Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Abril, 1981, p. 66-67 (livro I, XLIX)
O excerto em questão é bastante teatral, uma vez que o autor teve a pretensão de criar um texto anti-heroico, a fim de satirizar as grandes epopeias conhecidas. A sátira se inicia no fato do anfitrião ser um liberto enriquecido, que oferece um banquete luxuoso. Todavia, apesar dos exageros, o texto tem muito a nos dizer e apresenta a relação dos senhores e seus escravos domésticos. Nesse sentido, sobre a escravidão doméstica na Roma Antiga, baseado na leitura do excerto, considere as asserções a seguir, e a relação proposta entre elas:
I. A cena proposta no banquete de Satírico apresenta Trimálquio como um anfitrião comedido, uma vez que castiga seu servo adequadamente na frente de todos, mesmo sendo seu “preferido”.
PORQUE
II. Como o Satírico de Petrônio deixa claro, o escravo em questão estava prestes a ser castigado, pois havia exercido a função de uma mulher.
É correto o que se afirma em:
Alternativas
Alternativa 1:
As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
Alternativa 2:
As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I.
Alternativa 3:
A asserção I é uma proposição verdadeira e a II uma proposição falsa.
Alternativa 4:
A asserção I é uma proposição falsa e a II uma proposição verdadeira.
Alternativa 5:
As asserções I e II são proposições falsas.
Soluções para a tarefa
Resposta:
Alternativa 5
Explicação:
Nenhuma está correta. o anfitrião comedido é aquele que age com cautela, não toma decisões repentinas, é prudente e cauteloso, portanto, o contrário de Trimálquio.
Considerando as asserções apresentadas sobre o excerto da obra Satírico, de Petrônio, pode-se concluir que ambas são falsas. Portanto, a alternativa correta é a 5.
Analisando as asserções sobre Satírico
I - A asserção é falsa, pois Trimálquio não é apresentado como um anfitrião comedido. Trimálquio se exalta ao ponto de seus convidados pedirem para ele se acalmar. O castigo a ser aplicado também não pode ser classificado como adequado.
II - A asserção é falsa porque o motivo de o escravo estar prestes a ser castigado é um erro na execução de funções culinárias para o andamento do banquete. Na Roma Antiga, os pratos cozinhados para banquetes eram preparados por cozinheiros que eram escravos.
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