tradiçoes ligas ao ritmo choro
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Os primeiros conjuntos de choro surgiram por volta da década de 1870, nascidos nas biroscas do bairro Cidade Nova e nos quintais dos subúrbios cariocas. O flautista e compositor Joaquim Antônio da Silva Calado, os pianistas Ernesto Nazaré e Chiquinha Gonzaga, e o maestro Anacleto de Medeiros compuseram quadrilhas, polcas, tangos, maxixes, xotes e marchas, estabelecendo os pilares do choro e da música popular carioca da virada do século XIX para o século XX, que com a difusão de bandas de música e do rádio foi ganhando todo o território nacional. Herdeiro de toda essa tradição musical, Pixinguinha consolidou o choro como gênero musical, levando o virtuosismo na flauta e aperfeiçoando a linguagem do contraponto com seu saxofone e organizou inúmeros grupos musicais, tornando-se o maior compositor de choro.
Como ocorre com outros gêneros musicais, existem inúmeras discussões entre os pesquisadores sobre a gênese da palavra “choro”. Dentre as versões conhecidas, uma diz respeito que o termo surgiu de uma fusão entre “choro”, do verbo chorar, e “chorus”, que em latim significa “coro”. Para Lúcio Rangel e José Ramos Tinhorão, a expressão choro pode derivar da maneira chorosa de se tocar as músicas estrangeiras no final do século XIX e os que a apreciavam passaram a chamá-la de música de fazer chorar. Por extensão, próprio conjunto de choro passou a ser denominado pelo termo, por exemplo, “Choro do Calado”. Já Ari Vasconcelos vê a palavra choro seria uma corruptela de choromeleiros, corporações de músicos que tiveram atuação importante no período colonial brasileiro. Os choromeleiros não executavam apenas acharam ela, mas outros instrumentos de sopro. O termo passou a designar, popularmente qualquer conjunto instrumental. Câmara Cascudo arrisca que o termo pode também derivar de “xolo”, um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas, expressão que, por confusão com a parônima portuguesa, passou a ser conhecida como “xoro” e finalmente, na cidade, a expressão começou a ser grafada com “ch”.
No princípio, a palavra designava o conjunto musical e as festas onde esses conjuntos se apresentavam, mas já na década de 1910 se usava o termo para denominar um gênero musical consolidado. Atualmente, o termo “choro” tanto pode ser usado nessa acepção como para nomear um repertório de músicas que inclui vários ritmos. A despeito de algumas opiniões depreciativas sobre a palavra “chorinho”, essa também se popularizou como referência ao gênero, designando um tipo de choro em duas partes, ligeiro, brejeiro, muito comunicativo.
História do choro: Jacob do Bandolim
Jacob do Bandolim, um grande virtuoso
Tido como a primeira música popular urbana típica do Brasil, a História do Choro está ligada com a chegada, em 1808, da Família Real portuguesa ao Brasil. Promulgada capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815, o Rio de Janeiro passou, então, por uma reforma urbana e cultural, quando foram criados cargos públicos. Com a corte portuguesa vieram instrumentos de origem européia como o piano, clarinete, violão, flauta, bandolim e cavaquinho, bem como seus instrumentistas. Com esses viajantes, chegou ao Brasil a música de dança de salão européia, como a valsa, a quadrilha, amazurca, a modinha, a schottish e principalmente a polca, que viraram moda nos bailes daquela época.
A reforma urbana, os instrumentos e as músicas estrangeiras, juntamente com a abolição do tráfico de escravos no Brasil em 1850, foram condições históricas para o surgimento do choro, já que possibilitou a emergência de novos ofícios para as camadas populares. Nesse contexto, tendo como origens estilísticas o lundu, ritmo de inspiração africana à base de percussão, com gêneros europeus, nasceu o choro no Rio de Janeiro, por volta de 1870. Esses grupos de instrumentistas populares, a quem se daria mais tarde o nome de chorões, eram oriundos de segmentos da classe média baixa da sociedade carioca, sendo em sua grande maioria modestos funcionários de repartições públicas – como da Alfândega, dos Correios e Telégrafos e da Estrada de Ferro Central do Brasil – cujo trabalho lhes permitiam uma boemia regular, e geralmente moradores da Cidade Nova. Sem muito compromisso e sem precisar tocar por dinheiro, essas pessoas passaram a formar conjuntos para tocar de “ouvido” essas músicas, que juntamente com alguns ritmos africanos já enraizados na cultura brasileira, como o batuque e o lundu, passaram a ser tocadas de maneira abrasileirada pelos músicos que foram então batizados de chorões. Inicialmente, se reuniam aos domingos nos chamados pagodes no fundo dos quintais dos subúrbios cariocas ou nas residências da Cidade Nova. Com isso, se tornaram os principais canais de divulgação do estilo para o povo. Um dos preceitos desses pagodes ou tocatas domingueiras era uma mesa farta em alimentos e bebidas.