Trabalho e necessidades nas sociedades primitivas Sociedades como estas [primitivas] que estamos considerando não têm as nossas razões para trabalhar — se é que entre elas se encontre algo parecido com o que faz o burocrata na repartição ou o operário na fábrica, comandados pelos administradores, pela linha de montagem, pelo relógio de ponto, pelo salário no fim do mês. "Trabalham" para viver, para prover às festas, para presentear. Mas nunca mais que o estritamente necessário: a labuta não é um valor em si, não é algo que tem preço, que se oferece num mercado; não se opõe ao lazer, dele não se separando cronologicamente ("hora de trabalhar, trabalhar"); não acontece em lugar especial, nem se desvincula das demais atividades sociais (parentesco, magia, religião, política, educação. ). Sempre que se pareçam com o que chamamos "trabalho", tais atividades são imediatamente detestadas. Aliás, no fundo, no fundo, não o são também entre nós? De vez em quando se trabalha um pouco mais que o necessário à satisfação do "consumo" regular. Mas com maior frequência, dentro do tempo normal de "trabalho", se produz algo que transborde o necessário. Esta é, em geral, a parte das solenidades, das festas, dos rituais, dos presentes, das destruições ostentatórias, das manifestações políticas, da hospitalidade... e o significado desse algo mais nunca é acumular, investir. Há aí, portanto, uma grande diferença em relação à nossa atitude oficial para com o trabalho. Mas não há, ao mesmo tempo, algo que intimamente invejamos? Algo com coloração de sonho, para nós, que mais ou menos reservadamente trabalhamos de olho na hora da saída, no fim de semana, no feriado prolongado, nas férias, na aposentadoria? Rodrigues, José Carlos. Antropologia e comunicação: princípios radicais. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989. p. 101. Trabalho e ócio no mundo greco-romano Em Atenas, na época clássica, quando os poetas cômicos qualificavam um homem por seu ofício (Eucrates, o comerciante de estopa; Lisicles, o comerciante de carneiros), não era precisamente para honrá-los; só é homem por inteiro quem vive no ócio. Segundo Platão, uma cidade benfeita seria aquela na qual os cidadãos fossem alimentados pelo trabalho rural de seus escravos e deixassem os ofícios para a gentalha: a vida "virtuosa", de um homem de qualidade, deve ser "ociosa" [...]. Para Aristóteles, escravos, camponeses e negociantes não poderiam ter uma vida "feliz", quer dizer, ao mesmo tempo próspera e cheia de nobreza: podem-no somente aqueles que têm os meios de organizar a própria existência e fixar para si mesmos um objetivo ideal. Apenas esses homens ociosos correspondem moralmente ao ideal humano e merecem ser cidadãos por inteiro: "A perfeição do cidadão não qualifica o homem livre, mas só aquele que é isento das tarefas necessárias das quais se incumbem servos, artesãos e operários não especializados; estes últimos não serão cidadãos, se a constituição conceder os cargos públicos à virtude e ao mérito, pois não se pode praticar a virtude levando-se uma vida de operário ou de trabalhador braçal". Aristóteles não quer dizer que um pobre não tenha meios ou oportunidades de praticar certas virtudes, mas, sim, que a pobreza é um defeito, uma espécie de vício. Veyne, Paul. Trabalho e ócio. In: Ariès, P., Duby, G. História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. v. 1: Do Império Romano ao ano mil. p. 124-5. Após a leitura dos textos, responda às seguintes questões:
1. A antiga concepção de que as atividades do pensamento vinculadas à ociosidade (liberdade) têm mais valor que as vinculadas às necessidades está presente em nossa sociedade? Como ela aparece nos jornais e na televisão?
2. Para você, a concepção de que a pobreza é uma espécie de vício, ou algo que torna as pessoas inferiores, existe ainda hoje? Justifique:
3. Desde a Antiguidade se observa a divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual. Como ela aparece em outros momentos históricos e, principalmente, hoje?
Soluções para a tarefa
A antiga ... atividades do pensamento vinculadas à ociosidade (liberdade) têm mais valo… ... têm mais valor que as vinculadas às necessidades está presente em nossa sociedade..
Resposta:
1)A antiga concepção de que as atividades do pensamento vinculadas à ociosidade(liberdade) têm mais valor que as vinculadas às necessidades está presente em nossa sociedade? Como ela aparece nos jornais e na televisão?
Sim. Está ligado a “cultura do lazer e do prazer”, que vem individualismo. Em jornais e televisões aparece na forma de que a pessoa é estimulada a apenas se satisfazer, seja comprando um carro, comendo certa comida, etc, e acabam não refletindo sobre certas necessidades da sociedade e investir o mínimo de tempo ou dinheiro nisso.
2)Para você, a concepção de que a pobreza é uma espécie de vício, ou algo que torna as pessoas inferiores, existe ainda hoje?
Na minha opinião, a pobreza não é nenhuma espécie de vício, mas isso acaba sim gerando pessoas inferiores, no olhar daqueles que tem muito mais dinheiro.
3)Desde a Antiguidade se observa a divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual. Como ela aparece em outros momentos históricos e, principalmente, hoje?
O trabalho manual exige do corpo enquanto o intelectual da mente e do conhecimento científico, geralmente os trabalhadores manuais passam por qualquer tipo de preconceito por simplesmente trabalharem com o que trabalham, mas talvez não tiveram chance de ter uma escolaridade maior. A divisão desses trabalhos caminha lado a lado com o preconceito, e aparece sempre com alguém desvalorizando este tipo de trabalhador.
Explicação:
confia