Trabalho de antropologia de Lucia Eilbaum?
Soluções para a tarefa
Leticia Carvalho de Mesquita Ferreira
Moradores de Los Pantanos, região do chama-
do conurbano bonaerense, na província argentina de
Buenos Aires, o casal Marisa e Carlos tinha cinco
filhos. Os caçulas eram um casal de gêmeos de 8
meses, Rodrigo e Sabrina, nascidos prematuros.
Carlos trabalhava vendendo roupas e Marisa era
dona de casa.
A vida doméstica de Marisa e Carlos tornou-se,
em dezembro de 2007, objeto de um processo ins-
taurado no sistema de justiça criminal da província
de Buenos Aires. Uma denúncia envolvendo o casal
chegou à Unidad Fiscal de Instrución K (UFI K),
uma das repartições daquele sistema encarregadas
de investigar crimes ocorridos em uma área delimi-
tada do conurbano. Segundo a denúncia, Rodrigo
falecera e sua irmã gêmea, Sabrina, estaria severa-
mente desnutrida. Marisa e Carlos seriam responsá-
veis tanto pela morte no menino, como pelo estado
da menina, tornando-se, por isso, “imputados” por
“abandono de pessoa” em um processo criminal.
Entre os diversos procedimentos que constituí-
ram a fase de instrução do processo, destacou-se o
depoimento de Marisa na UFI K. Procurando de-
fender-se de algo que se apresentava como mais que
uma suspeita, Marisa respondeu a uma das pergun-
tas que lhe foram dirigidas pela promotora da UFI
com os seguintes dizeres: “o bairro fala”. Segundo
Marisa, seus vizinhos e familiares produziriam ver-
sões e acusações intrusivas e falsas a respeito de sua
vida doméstica que seriam espalhadas pelo “bair-
ro” na forma de rumores, fofocas e dizeres que ela
tentava explicar, condensar e contestar através da
expressão “o bairro fala”.
A expressão de Marisa, que aparece de dife-
rentes formas em muitos registros, processos e en-
contros constitutivos do cotidiano de órgãos do
Judiciário da província de Buenos Aires, dá título
à obra “O Bairro Fala”: conflitos, moralidades e jus-
tiça no conurbano bonaerense. O livro é fruto da