Todos nós somos consumidores, é óbvio... Enquanto vivermos. Não pode ser de outro modo, porque, se paramos de consumir morremos. A única dúvida é quantos dias vai durar o desfecho fatal. O consumo – cuja ação é definida pelos dicionários como sinônimo de “usar”, “comer”, “ingerir (líquido ou comida)” e, por extensão, “gastar”, “dilapidar”, “exaurir” – é uma necessidade. Mas o “consumismo”, a tendência a situar a preocupação com o consumo no centro de todos os demais focos de interesse e quase sempre como aquilo que distingue o foco último desses interesses, não é.
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Vou explicar o que quero dizer. Para começo de conversa, a primeira mensagem do presidente George W. Bush aos americanos chocados e estupefatos diante da visão do desmoronamento das Torres Gêmeas emblemáticas da supremacia mundial dos Estados Unidos, atravessadas por aviões pilotados por terroristas, foi para que todos “voltassem às compras”. A intenção da mensagem era conclamar os americanos a retomar a vida normal.
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“Vamos às compras” queria dizer: voltemos à normalidade, à nossa rotina do dia a dia. Como em outros casos menos dramáticos, embora não menos importantes (como, por exemplo, a queda periódica do produto nacional bruto – isto é, a quantidade de riqueza que troca de mãos, medida oficial do nível de prosperidade econômica do país; ou o pânico de uma iminente recessão), esperava-se que a salvação resultasse das decisões dos consumidores de retomar o cumprimento zeloso de sua obrigação de comprar e gastar o dinheiro que tinham ganhado ou contavam ganhar – após um intervalo, que esperavam fosse breve, de cintos apertados.
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Felizmente, para todos nós, prisioneiros voluntários ou involuntários do consumismo, as farmácias consumistas em geral se distribuem de maneira compacta ao longo das avenidas centrais das cidades e suas numerosas extensões. São cada vez mais sofisticadas e ubíquas, proporcionando os cintos de segurança e os salva-vidas de que precisamos para nos libertar da incerteza que conhecemos e para nos abrir os olhos às incertezas que ainda desconhecemos.
Após a leitura marque V (verdadeira) ou F (falsa) em relação às afirmações abaixo:
a) O sociólogo Zygmunt Bauman inicia sua discussão com uma afirmação acerca do conceito de consumo para, em seguida, opô-lo à ideia de consumismo ( )
b) Na frase “O consumismo é um produto social, e não o veredicto inegociável da evolução biológica” o termo sublinhado pode ser substituído por ASSIM COMO sem alteração do sentido ( )
c) No 3º parágrafo, o autor utilizará de um fato histórico para desencadear sua crítica ( )
d) Na frase “Portanto, escolher o apelo ao consumo como resposta adequada a um desafio estranho e desconhecido, do qual nunca se ouvira falar, e por isso mesmo excepcionalmente aterrador, assombroso e desnorteante, foi a maneira mais simples e segura de reduzir um acontecimento terrível ao plano de um aborrecimento corriqueiro: quebrar o encanto e nos familiarizar com o fato, tornando-o, por assim dizer, algo doméstico e controlável, tirando-lhe o caráter maligno”, os termos sublinhados podem ser substituídos por DESSA FORMA, SENDO, ALÉM DE e CONSEQUENTEMENTE, respectivamente, sem alteração do sentido ( )
e) Na frase “Não é esta, porém, a única utilidade pela qual se introduziu a monótona e rotineira necessidade de consumir numa sociedade consumista como a nossa”, o termo sublinhado pode ser substituído por TODAVIA sem alteração do sentido ( )
f) Na frase “Em síntese, os graves desconfortos causados pelo desconhecimento do fato de que outras pessoas depararam com novas invenções ou descobertas capazes de proporcionar sensações e satisfações das quais você – que dormiu no ponto – estaria lamentavelmente privado”, o termo sublinhado apresenta um recurso argumentativo que é uma exemplificação. ( )
g) Na frase “A pior sensação de mal-estar, uma espécie de metadesconforto que está na base de todas as inquietações específicas e que nos leva a repetir sem parar as visitas às farmácias consumistas, é a incerteza de estarmos no caminho certo”, o trecho destacado é uma explicação para o termo anteriormente expresso, a saber, o termo mal-estar. ( )
h) Na frase “As farmácias ortodoxas, aquelas antigas e fora de moda, prometiam mitigar a dor e aliviar outras aflições físicas. Recorríamos ao farmacêutico a fim de obter um remédio para dor de garganta, coriza, dor nas costas ou azia: ninguém tinha dúvidas sobre a dor que nos levava a correr ao farmacêutico em busca de conselho e ajuda.”, o termo destacado pode ser substituído por PARA, sem alteração do sentido. ( )
i) Em “As farmácias cuidam para que o ‘pé inaudível e sutil do Tempo’, de que fala Shakespeare, não seja silencioso e muito menos inaudível”, o autor faz uma CITAÇÃO a um outro nome da cultura ( )
j) Em sua conclusão, Bauman infere, com ironia, que o consumo é inescapável ao ser humano. ( )
Soluções para a tarefa
Analisemos cada alternativa:
a) (V) O autor explicita o conceito de consumo e em seguida faz uma crítica ao consumismo;
b) (F) O termo “Assim como” não pode ser usado no sentido de oposição e sim de conformidade;
c) (V) Sim, ele se utiliza de um fato para argumentar seu ponto de vista;
d) (F) Apesar de não visualizar os “termos sublinhados” de que fala a alternativa, não vejo como substituir os conectivos por estes apresentados;
e) (V) “Porém” pode ser substituído por “todavia”.
f) (F) Se “o termo sublinhado” que você se refere é “que dormiu no ponto”, trata-se de aposto (que tem intenção explicativa)
g) (V) “uma espécie de metadesgosto” explica o significado de mal estar.
h) (V) “a fim de” pode ser substituído por “para”, nesse contexto.
i) (F) No trecho apresentado no exercício não há citação de Shakespeare.
j) (V) Ele se utiliza de metáforas para demonstrar irônia.
Espero ter ajudado.
Bons estudos!