TODO MUNDO quer ser livre; a liberdade é o bem mais precioso, almejado por homens e mulheres de todas as idades, e a luta para conquistá-la começa bem cedo. Desde os primeiros meses de idade só se pensa em uma coisa: fazer apenas o que quer, na hora que quer, do jeito que quer.
Crianças de meses rejeitam a mamadeira de três em três horas, mas choram quando têm fome (só querem comer quando têm fome, o que é muito justo) e quando um pouco mais grandinhas, brigam para não vestir a roupa que a mãe escolheu.
Ficam loucas para ir sozinhas para o colégio, e quando chegam em casa além do horário previsto, ai de quem perguntar onde elas estiveram. "Por aí", é o que respondem, quando respondem e as mães que enlouqueçam.
Quando adolescentes, as coisas pioram: querem a chave da casa (e a do carro), e quando começam a sair à noite e os pais tentam estabelecer uma hora para chegar, é guerra na certa, com as devidas consequências: quarto trancado, onde ninguém pode entrar nem para fazer uma arrumação básica.
Naquele território ninguém entra, pois é o único do qual ele se sente dono portanto, livre. A partir dos 12 anos, o sonho de todos os adolescentes é morar num apart sozinhos, claro.
Mas o tempo passa, vem um namoro mais sério, e quem ama não é nem quer ser livre (para que o outro também não seja). Dá para quem está namorando sumir por três dias? Claro que não. Se for passar o fim de semana na casa da avó, em outra cidade, vai ter que dar o número do telefone, e isso lá é liberdade? Os celulares permitem, pelo menos, que eles não atendam, já que sabem quem está ligando.
Aí um dia você começa a achar que para ser livre mesmo é preciso ser só; começa a se afastar de tudo e cancela o amor em sua vida, entre outras coisas. Ah, que maravilha: vai aonde quer, volta na hora que bem entende, resolve se o almoço vai ser um sanduíche ou nada, sem ninguém para reclamar da geladeira vazia, trocar o canal de televisão ou reclamar do fumacê no quarto. Ah, viver em total liberdade é a melhor coisa do mundo.
Mas a vida não é simples, e um dia você acorda pensando em mudar de casa; fica horas pesando os prós e contras, mas não consegue decidir se deve ou não. Pensa em refrescar a cabeça e ir ao cinema, mas fica na dúvida enfrentar a fila, vale a pena? Vê a foto de uma modelo na revista e tem vontade de cortar o cabelo igual, mas será que deve?
Acaba não fazendo nada, e depois de tantos anos sem precisar dar satisfação da vida a ninguém, começa a sentir uma estranha nostalgia.
Como seria bom se tivesse alguém para dizer que é loucura fazer uma tatuagem; que aconselhasse a não trocar de carro agora pra que, se o seu está tão bom?
Que mostrasse o quanto foi injusta com aquela amiga e precipitada quando largou o marido, o quanto foi rude com a faxineira por bobagem. Que falasse coisas que iam te irritar, desse conselhos que você ia seguir ou não, alguém com quem você pudesse brigar, que te atormentasse o juízo às vezes, para poder reclamar bastante. Alguém que dissesse o que deve ou não fazer, o que pode e o que não pode, e até mesmo te proibisse de alguma coisa.
E que às vezes notasse suas olheiras e falasse, de maneira firme, que você está muito magra e talvez exagerando na dieta; alguém que percebesse que faltando dez dias para o final do mês você só tem R$ 50 na carteira e perguntasse se você não está precisando de alguma coisa. E que dissesse sempre, em qualquer circunstância, "vai dar tudo certo".
Que falta faz um pai.
1. A autora defende um ponto de vista a respeito da importância que tem a liberdade na vida das pessoas.
a) Qual é esse ponto de vista?
b) em que fase da vida o ser humano aspira pela liberdade?
2. No 4° parágrafo do texto, a autora diz que, na adolescência, "as coisas pioram".
a) Por que há conflitos entre país e adolescentes?
b) que palavras empregadas pela autora reforçam a ideia de que o lar se transforma no campo de batalha?
c) seu quarto é o único espaço do qual o adolescente se sente o dono, então: que envolvimento ele tem com o restante da casa e com os problemas do lar?
3. De acordo com o texto, "o sonho de todos os adolescentes é morar num apart-- sozinhos, claro"
a) Das regalias que há no lar, quais o adolescente encontraria num apart-hotel?
b) O adolescente tem condições concretas de manter um apart-hotel?
Soluções para a tarefa
Resposta:
a) Qual é esse ponto de vista?
Todo mundo quer ser livre; a liberdade é o bem mais precioso
b) Em que fases da vida o ser humano aspira pela liberdade?
Em todas elas.
02. No 4º parágrafo do texto, a autora diz que, na adolescência, “as coisas pioram”.
a) Por que há conflitos entre pais e adolescentes?
Os pais querem controle e os filhos acham que já têm idade pra serem livres.
b) Que palavras empregadas pela autora reforçam a ideia de que o lar se transforma num campo de
batalha?
“é guerra na certa”
c) Se o quarto é o único espaço do qual o adolescente se sente o dono, então: que envolvimento ele tem
com o restante da casa e com os problemas do lar?
Aparentemente nenhum, ou muito pouco.
03. De acordo com o texto, “o sonho de todos os adolescentes é morar num apart — sozinhos, claro”.
a) Das regalias que há no lar, quais o adolescente encontraria num apart-hotel?
Limpeza do ambiente, comida pronta, roupa lavada e passada.
b) O adolescente tem condições concretas de manter um apart-hotel?
Não, a menos que ele tenha um emprego cujo salário seja razoável.
04. Segundo a autora, a fase do “namoro mais sério” modifica a visão que até então a pessoa tinha de
liberdade. “Quem ama”, diz ela, “não é — nem quer ser — livre”.
a) Explique essa contradição.
Para as pessoas amar significa depender do outro e dar satisfações, coisas que a liberdade não
tem.
b) Por que, a respeito dos telefones celulares, a autora diz “melhor nem falar”?
Porque como o celular sempre está com a gente é mais fácil de se manter o controle.
05. Morar sozinho é uma das etapas na conquista da liberdade. De acordo com o texto:
a) Que vantagens há em morar sozinho?
Você vai aonde quer, volta na hora em que bem entende, resolve se o almoço vai ser um
sanduíche ou nada, sem ninguém para reclamar da geladeira vazia, trocar o canal de televisão
ou reclamar porque você está fumando no quarto.
b) E quais são as desvantagens?
Um dia você acorda pensando em se mudar de casa; fica horas pesando os prós e contras, mas
não consegue decidir se deve ou não. Pensa em refrescar a cabeça e ir ao cinema, mas fica na
dúvida — enfrentar a fila, será que vale a pena? Vê a foto de uma modelo na revista e tem
vontade de cortar o cabelo — mas será que vai ficar bem?
06. Releia este trecho:
“depois de tantos anos sem precisar dar satisfação da vida a ninguém, começa a sentir uma estranha
nostalgia.”
Veja alguns dos sentidos que a palavra nostalgia tem no dicionário:
nostalgia: s.f. 1 melancolia profunda causada pelo afastamento da terra natal [...] 3 saudades de algo,
de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter; desejo de voltar ao passado.
(Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.)
a) No texto em estudo, a nostalgia se deve à falta de quê?
De alguém que te controle sempre e em tudo que você faça.
b) Que outro sentido ganha, nesse momento, tudo aquilo que antes parecia insuportável ao adolescente?
Parece ganhar o sentido de atenção, carinho, amor.
07. Comparada com o início do texto, a frase “Que falta faz um pai”, frase final, é surpreendente.
a) A palavra pai foi empregada conotativamente. Que sentidos ela apresenta no contexto?
As pessoas que se importam com a gente durante a vida.
b) Até alguém chegar a essa nova forma de ver o mundo, quantos anos terão se passado?
Toda a juventude e talvez boa parte da vida adulta.