Tirei hoje do fundo da gaveta, onde jazia a minha pena de cronista. A coitadinha estava com um ar triste, e pareceu-me vê-la articular por entre os bicos, uma tímida exprobração. Em roda do pescoço enrolavam-se uns fios tenuíssimos, obra dessas Penélopes que andam pelos tetos das casas e desvãos inferiores dos móveis. Limpei-a, acariciei-a, e, como o Abencerragem ao seu cavalo, disse-lhe algumas palavras de animação para a viagem que tínhamos de fazer. Ela, como pena obediente, voltou-se na direção do aparelho de escrita, ou, como diria o tolo de Bergerac, do receptáculo dos instrumentos da imoralidade. Compreendi o gesto mudo da coitadinha, e passei a cortar as tiras de papel, fazendo ao mesmo tempo as seguintes reflexões, que ela parecia escutar com religiosa atenção:
— Vamos lá; que tens aprendido desde que te encafuei entre os meus esboços de prosa e de verso?
Necessito mais que nunca de ti; vê se me dispensas as tuas melhores ideias e as tuas mais bonitas palavras; vais escrever nas páginas do Futuro. Olha para que te guardei! Antes de começarmos o nosso trabalho, ouve amiga minha, alguns conselhos de quem te preza e não te quer ver enxovalhada … Não te envolvas em polêmicas de nenhum gênero, nem políticas, nem literárias, nem quaisquer outras; de outro modo verás que passas de honrada a desonesta, de modesta a pretensiosa, e em um abrir e fechar de olhos perdes o que tinhas e o que eu te fiz ganhar. O pugilato das ideias é muito pior que o das ruas; tu és franzina, retrai-te e fecha-te no círculo dos teus deveres, quando couber a tua vez de escrever crônicas. Seja entusiasta para o gênio, cordial para o talento, desdenhosa para a nulidade, justiceira sempre, tudo isso com aquelas meias-tintas tão necessárias aos melhores efeitos da pintura.
Comenta os fatos com reserva, louva ou censura, como te ditar a consciência, sem cair na exageração dos extremos. E assim viverás honrada e feliz.
[…]
1. Sobre o texto narrativo, é correto afirmar: *
1 ponto
a. O autor adota a postura de observador, ou seja, é um narrador em primeira pessoa e personagem da história.
b. O enredo é prioridade e os verbos predominam no tempo pretérito, tal como o pretérito mais-que-perfeito.
c. Não apresenta clímax em sua estrutura nem um desfecho, deixando a narrativa prejudicada em sua estrutura.
d. Não é fundamental situar o tempo e o espaço físico onde ocorrem os fatos, pois esses elementos são opcionais.
2. Considerando o texto, assinale a opção correta: *
1 ponto
a) O texto mescla elementos descritivos, avaliativos e narrativos e apresenta orientações dadas pelo narrador a sua pena.
b) O autor, utilizando um tom informal, disserta sobre os desafios e mistérios que envolvem o processo de escrita.
c) O texto é essencialmente denotativo, objetivo e direto, o que se evidencia pelo uso de diálogos e construções típicas da oralidade.
d) O autor utiliza o recurso da intertextualidade – remetendo a outros narradores como retórica de apelo ao convencimento –, para satirizar o processo de criação literária da época.
Kawxzli:
e qual seria o texto?
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Resposta:
1. LETRA: B
2. LETRA: A
Explicação:
b. O enredo é prioridade e os verbos predominam no tempo pretérito, tal como o pretérito mais-que-perfeito.
A ) O texto mescla elementos descritivos, avaliativos e narrativos e apresenta orientações dadas pelo narrador a sua pena.
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